quinta-feira, dezembro 27, 2007

Tempo, tempo.

É batata. Chega dezembro e começo a escutar pessoas falando que o ano foi péssimo, dos piores vividos por eles. Quase sempre, a queixa é seguida de um “espero que o próximo ano seja melhor”. Tenho a impressão de que todos os anos têm sido horríveis e estão piorando gradativamente. Quase ninguém diz que o ano foi maravilhoso ou divertido. Ainda assim, acreditam em dias melhores.

Mas não é a virada da folhinha que vai mudar a vida de ninguém. Não vai melhorar.

Há quem diga que sou amargo e pessimista, que falo coisas assim por ressentimento. Sim, posso ser tudo isso, mas não é razão para descrença num futuro próspero. Nem muito menos recorrerei ao chavão “sou realista”. Nada disso.

Não estamos acostumados a lidar com o que nos desagrada. Passam-se os anos e nossas pequenas tragédias diárias, dramas e aflições aumentam em número e intensidade. E mesmo com essa eterna repetição de mazelas, gente continua torcendo para que as coisas melhorem. É irreal.

Supostamente, tenho mil motivos para reclamar de 2007. Nunca vivi em tão pouco tempo essa combinação de perdas, desentendimentos, tristezas e frustrações que experimentei recentemente, sobretudo no último semestre. Tive momentos bem ruins, devo ter chorado o suficiente para encher uma cisterna.

Isso é a vida. Feia e instável. Com o tempo e um jeitinho, você começa a gosta dela. Não adianta reclamar, ela não muda. É como aquelas pessoas que não tomam jeito, por mais que reclamemos de seus defeitos. Alguém tem de ceder. Eu cedi. E estamos muito bem, obrigado. Reparo bem mais nas coisas boas acontecendo ao redor.

Próximo ano vai ser pior. Mas isso não quer dizer que será ruim.

Para quem acredita em calendário, feliz ano-novo. Até 2008.

sábado, dezembro 22, 2007

Mensagem recebida

Já há um bocado de tempo as companhias de telefonia móvel lideram o ranking de reclamações do Procon. Serviços ruins, cobranças indevidas e demora na resolução de problemas são as principais queixas. É tudo verdade, mas o pior mesmo são as mensagens de propaganda que chegam direto.

Por mais que a experiência me mostre o contrário, sempre acho que aquele barulhinho feito pelo telefone celular é pra me alertar o recebimento de uma mensagem escrita por um humano, exclusivamente para mim. Tuuu, toca o aparelho e vou correndo para ver quem me escreve. Decepção: “Clientes TIM tem mais vantagens na Pizza Hut! Ligando do seu TIM, vc compra uma Cheesy Pop via delivery (4003-3043) e ganha uma pizza media. Valido de seg. a sexta”. Nem pra escrever a palavra “você” por inteiro eles se dão ao trabalho. Acentuação, nem se fala.

Sexta-feira à noite, chega uma mensagem. Convite para sair? Não, uma promoção “imperdível” para ganhar 25 minutos grátis, por mês, em ligações.

O Procon aceita reclamações por conta das falsas expectativas que a TIM provoca em mim quase que diariamente? Mereço uma indenização milionária.

sexta-feira, novembro 30, 2007

Corrente.

Agora eu não me sinto mais um excluído da blogosfera. André, do Cataclisma14, me incluiu numa corrente de blogues e pediu para eu citar cinco coisas que eu sei fazer e todo mundo também sabe. Vou quebrar a corrente porque acho que passaria vexame por não ser muito entrosado com a tuma dos blogues.

Ah, já sei. Vou convidar José Dirceu, Marcelo Tas, Bruna Surfistinha, Neil Gaiman e Fernando Meirelles para darem seus pitacos. Se passarem por aqui, estão intimados.

Cinco coisas que eu sei fazer e todo mundo também sabe:

1 – Ser roubado – É difícil passar ileso. Uma hora, alguém vai te assaltar Eu mesmo já fui assaltado mais de dez vezes, sendo que em determinado ano foram seis ocorrências. Já levaram de tudo: celular, carteira, mochila, camisa e boné (num tempo imemoriável quando se usavam bonés de times de basquete americano). Certa vez um ladrão teve a maldade de levar meu lanche que consistia num Toddynho e um pacote de Rufles. Pura maldade.

2 – Ser tapeado por vendedores – Variação da primeira habilidade, mas não envolve violência física, apenas a lábia. Vendedores são seus inimigos, por mais que eles tentem ser simpáticos. Fazem promoções do tipo “um é R$ 2 e dois é R$ 4” e você acaba pensando que fez bom negócio. E não, aquela camisa não ficou uma maravilha em você.

3 – Ovos mexidos – Qualquer um, de dementes a portadores de Mal de Parkinson, sabe fazer ovos mexidos, esta grande maravilha da gastronomia. Sem este insubstituível talento, as férias em casas de praia seriam muito mais complicadas. Ovo mexido pra comer com pão no café da manhã, pra dar sustância ao Miojo no almoço e novamente pra colocar no pão durante o jantar (isso se ainda houver pão).

4 – Insultar – É verdade que as formas mais simples de ofensa são acessíveis a todos, mas para realizar esta atividade de forma competente é necessária uma boa dose de criatividade e sofisticação. Quem é chamado um dia de filho da puta esquece logo. Mas experimente xingar o mesmo de filho de genitora promíscua. Ele dificilmente esquecerá e, quem sabe, até terá orgulho.

5 - Lamentar-se – “Eu não deveria ter gastando tanto com uma samba-canção de seda” ou “nunca que eu deveria ter dado para ele” são pensamentos que, respectivamente (ou não) assolam homens e mulheres. A impossibilidade de corrigir feitos pouco louváveis resulta sempre em lamúria. Não há como escapar. Até hoje eu me lamento por coisas feitas muitos anos atrás, como ter ido ver Casamento Grego no cinema, definitivamente, o pior filme da história da humanidade.

quinta-feira, novembro 22, 2007

Boca em obras

Certos procedimentos odontológicos deveriam ser feitos com anestesia geral. Não tanto pela dor, mas pelo incômodo que causam. Fui ao dentista para tratar uma cárie num dente lá do fundão da boca. Após duas injeções de anestesia local, nem sente direito a moça cutucando as coisas. Ela poderia rasgar minha bochecha que eu só sentiria depois que o sangue escorresse até o meu pescoço.

É, a anestesia funciona. Mas que coisa desagradável é aquela furadeira de dentista. Faz um barulho repetitivo, parece uma reforma acontecendo dentro da boca. E reforma é sempre uma coisa chata: faz sujeira e atrapalha o funcionamento das coisas. Claro que dentistas costumam ser mais delicados e rápidos que pedreiros, mas ainda assim causam transtornos. E, o pior, dentro de você.

Com o passar dos minutos se sente cada vez mais o inchaço na metade do rosto onde o dente está localizado. Me sinto como um baiacu inflado parcialmente. Não é bonito.

Adoraria que me dessem uma anestesia geral. Dormir sem me incomodar com o barulho, os dedos passeando pela minha boca ou com meia face inchada. Porque nada pior do que sair do dentista falando com a língua mole e jeitinho de quem acabou de ter um derrame e perdeu metade dos movimentos faciais.

segunda-feira, novembro 19, 2007

Risadinha é que era mulher de verdade

“Namora comigo?” (e suas inúmeras variações) é um dos pedidos mais estranhos que alguém pode ouvir. É razoável perguntar “posso te ver amanhã?” e coisas do tipo. E depois de vários amanhãs, creio que as pessoas estão namorando. Pessoas saudáveis, acredito, se juntam, simplesmente, sem formalidade.

Algo está fora dos eixos num relacionamento quando um pedido de namoro é dito ou tem de ser feito. Sobretudo quando em menos de três semanas se recebe dois pedidos de namoro de pessoas distintas. Algo REALMENTE está muito errado. E não tem nada a ver com feromônios.

Da última vez que alguém havia me pedido em namoro eu estava no terceiro ano do colégio. Esqueci o nome dela, mas eu a apelidei secretamente de Risadinha. Ela era mórmon e andava sempre com um sorriso entre o demente e histérico, uma feição que cairia bem tanto num assassino sádico quanto num drogado cheio de ácido.

Pois uma tarde Risadinha me abordou e se apresentou pra mim. Era assustador. Por vários dias seguidos ela ficou do lado de fora da sala de aula esperando que eu saísse para o recreio. Sem escapatória, ouvia histórias de aparições de Jesus e comentários simpáticos sobre mim. E ela dizendo isso com o olhar fixo e seu sorriso retardado.Uma maneira bem bizarra de flertar.

Até que, após 15 dias de conversas que eram quase monólogos dela, Risadinha me pediu em namoro. Deus, eu teria ficado menos assustado se a Virgem Maria aparecesse na coxinha que eu estava comendo na hora. Gaguejei algumas palavras fugi junto com o som do sinal que anunciava do fim do recreio.

Depois Risadinha nunca mais falou comigo. Mas fez o mesmo tipo de abordagem com um conhecido meu, que também não topou o relacionamento.

Hoje, as Risadinhas são outras. Mulheres mais velhas, supostamente maduras e sãs. Mas, no fim das contas, não mudam muito o resultado final. Continua tudo pouquíssimo sofisticado. Só é mais difícil reconhecer o estado de perturbação mental, porque elas não têm trejeitos de maníacos e sabem esconder bem suas neuroses. Risadinha, que saudade. Você era mais sincera e descomplicada.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Síndrome de Regina Duarte

Não sei por que a humanidade tem tanto medo de tudo. Medo de morrer, de se apaixonar ou de ficar só são alguns dos temores mais típicos. Gente excêntrica pode tornar as coisas um tanto sofisticadas, como a Regina Duarte que tinha (talvez ainda tenha) medo do Lula. Particularmente, considero a Malu Mulher mais medonha que o barbudo, mas vá lá. Afinal, o inconsciente humano é inconsciente mesmo.

Na sociedade cristã ocidental (pareço sofisticado falando assim, não?), essa insegurança já começa na infância, quando se deixa de aproveitar certas brincadeiras por medo de que o Papai do Céu castigue. Coisa infundada, porque não me lembro de nenhum amigo mais travesso que tenha sofrido com alguma praga de gafanhotos ou a morte do primogênito. Este último seria ainda mais remoto, principalmente porque o sexo entre crianças era coisa bem pouco em voga na minha geração. Hoje, qualquer criança de oito anos provavelmente tem uma vida sexual mais ativa e animada que a minha.

Já no Oriente Médio, Alá e Deus até aprovam as brincadeiras mais pesadas, possibilitando às crianças judias e israelenses uma infância mais saudável. O coleguinha judeu roubou suas figurinhas no jogo do bafo? Massacre o vilarejo dele e ainda sonhe com a promessa de 72 virgens no céu! Essas crianças, sim, viram adultos sem medo quando conseguem ultrapassar a puberdade intactos a todos os atentados à sua vida.

Agora, na lira dos 20 anos, uma das coisas que mais ouço é “tenho medo”. Dói nos nervos essa geração de frouxos com medo de sentir qualquer coisa que seja simplesmente sentir. Um amigo pensa em terminar um namoro com medo de gostar de verdade de seu namorado. Outra me diz que não quer começar um relacionamento pelo mesmo pavor: gostar, amar, sei lá.

Medo de gostar? Me explica. Acho perfeitamente razoável que se tenha medo de coisas como uma punção lombar, músicas da Björk, Receita Federal ou filmes eróticos com pessoas besuntadas. Mas se preocupar em não se apegar a alguém pelo temor de que essa pessoa um dia pode sumir da sua vida é estranho e antinatural. Tudo tem um ponto final. Pra que temer?

Dizem que isso é ser racional. Parece-me estúpido, isso sim.

quarta-feira, novembro 07, 2007

Lacuna

Vivo, por ora, um estado de não plenitude das coisas. Não é insatisfação com o que me é disponível, mas um estranhamento pela ausência de quem já foi tão presente em minha vida.

Os últimos cinco anos foram os que mais surgiram e sumiram pessoas da minha vida: amor e amizades, ambos na forma mais intensa e apaixonada. E quase todos desapareceram.

Vez ou outra nos esbarramos e é sempre o mesmo: olhares estranhos, desvio de caminhos ou indiferença, simplesmente. A reação mais eloqüente que obtemos desse encontro é talvez um sorriso com câimbra.

Às vezes, de uma tentativa sincera de reaproximação acontece um abraço, mas os braços parecem não mais saber se enlaçar. Desconfortável. E triste.

Parece que as pessoas morrem não da forma literal, mas de maneira metafórica, coisa muito mais desagradável. Acostumar com a idéia de que elas não estão mais ali nem em qualquer lugar é bem ruim. Sobretudo porque não é possível acostumar-se.

terça-feira, outubro 23, 2007

[ ]

Viver é surreal
Morrer
é realidade de vida
acalentada pelo instante
indecifrável da alma
que vagueia, desnorteia-se
e por estar perdida
encontra-se na dor, na busca.

(Orismar)

quinta-feira, setembro 27, 2007

Rambo, o futuro e todo o resto


Sabe quando você precisa de uma observação bem feita para conseguir refletir sobre o estado das coisas? Aquelas palavras que fazem você notar o quanto a situação está realmente crítica. É algo como quando lhe avisam, “ei, seu zíper está aberto” e você sente que tem de fazer algo a respeito.

Ultimamente, muitos me falam para não ficar parado e procurar logo um emprego ou coisa que valha. É, eu sei. Mas também sei que preciso descansar um pouco. Só que agora parece que chegou o momento decisivo.

Vendo num site as fotos do novo filme do Rambo, comentei com uma amiga minha a decadência do Sylvester Stallone. “Tas precisando muito de uma ocupação!”, é a resposta que eu tenho dela.

Um comentário muito simples e pertinente. E parei para refletir: o que me leva a gastar tempo lendo sobre o novo filme do Rambo? Eu nem gosto dele. Será um sinal de que minha vida está perdendo o sentido? Ver fotos do Stallone velho e gordo empunhando uma metralhadora?!

Foi quase uma revelação mística. O Rambo está lá na selva, detonando terroristas, é uma ocupação. Preciso arrumar algo, logo.

quarta-feira, setembro 19, 2007

Corro.

Certas horas, parece necessário fugir, mesmo sem saber de que, mesmo sem saber pra onde. Deve ser algum lampejo do meu débil instinto de sobrevivência. Mas, como fugir?

Enquanto não descubro como, venho utilizando uma alegoria para a fuga: correr, literalmente. Tem funcionado.

Sinto certo desespero ao correr, mas também dá reconforto; difícil explicar. E, correndo no calçadão da praia, tenho a impressão de que não sou o único correndo sem a preocupação mais óbvia de ficar em forma.

No trajeto sempre encontro um ou dois sujeitos que também parecem fugir de algo. Nos identificamos, de alguma forma. É um olhar diferente, não é resultado da respiração ofegante ou cansaço. Está lá antes e depois da corrida. Pelo menos nesses tempos. Também tenho esse olhar.

Pode ser pura perturbação da minha cabeça, mas posso jurar que trocamos mensagens naquela fração de segundos em que cruzamos, sempre em direções opostas. A mensagem? Não sei bem, difícil decifrar. Mas, naquele instante, nos sentimos menos sós.

Depois daquele rápido sorriso e cumprimentos implícitos, volto a correr. As pernas doem com o esforço, os músculos da panturrilha ficam rígidos, mas não paro. Corro, corro, não sei de que, não sei pra onde.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Reminiscências aleatórias (e vergonhosas)

Aproveitando os atuais momentos de ócio, passo um bom tempo revirando minhas tralhas, memórias e afins. Hoje me deparei com meu primeiro release. E não foi feito por mim, mas SOBRE mim:

“Breno é um garoto de sete anos e, apesar da pouca idade, apresenta-se com um talento promissor. É fotogênico e, além do mais, um showman nas passarelas quando desfila como manequim mirim...” (Showman??? Uau!)

“Charmoso, sendo uma criança meiga e carinho, Breninho, como é conhecido no Colégio Atual, está cursando a 1ª série, sendo um aluno que participa dos movimentos culturais do colégio.” (Ninguém nunca me chamou de Breninho no colégio e as únicas atividades supostamente culturais daquela época, das quais não participei, foram uns shows de Asa de Águia e Netinho.)

“Entre compromissos com o colégio, desfile e cursos, o Breninho reserva um tempinho com seus coleguinhas para uma boa peladinha e torcer pelo seu time do coração, o Sport Clube do Recife.” (Menino de ouro, não?)

O passado é assustador. Comecei a lembrar dos desfiles para grifes infantis como a Xixi Baby (pensando hoje, que nome bizarro). Foi uma carreira curta, ainda bem. Modelo mirim? Nunca façam isso com seu filho.

Em tempo: não fui molestado por ninguém no período.

quarta-feira, setembro 12, 2007

Freud

O rito é conhecido e respeitado por nós dois. Devo ocupar sempre o lado esquerdo da cama, encostado na parede, para que ele se aninhe do lado direito. Acontece todas há noites, há um bocado de tempo. De início, eu não achava tão confortável essa divisão injusta, afinal sou bem maior que ele e mereço mais que a metade do colchão. Atualmente, sinto falta quando ele não está do lado. Mesmo que ele quase sempre me acorde enquanto sobe na cama e eu leve muito tempo para conseguir dormir novamente.

Hoje meu companheiro noturno completa 12 anos de idade. Freud, meu cachorro está velho. Sua cabeleira preta apresenta um bocado de pêlos brancos, os olhos não enxergam mais e seu caminhar tornou-se mais lento. Mas, pelo menos pra mim, ele conserva muito do jeitinho de filhote de quando eu o ganhei. Não sei explicar. Talvez seja por conta de suas manias jamais abandonadas, como pedir por minhas meias sempre que chego em casa.

Inclusive eu estou condicionado: quando não me escuta abrir a porta, vou até ele e entrego as meias. Uma diversão fugaz antes dos pares irem para a máquina de lavar.


Focinho gelado, muitos pêlos nas roupas, lambidas inesperadas, bagunça debaixo da cama e ração esparramada pelo chão. Incrível como eu às vezes não me dou conta da alegria que essas coisas me trazem.

quarta-feira, setembro 05, 2007

No mundo a passeio

Estou retornando um hábito há muito não praticado, caminhar pela cidade. Assim, sem destino – com uma mochila nas costas, garrafa de água, chocolate, livros, música e outras coisas – tenho tentado ocupar meu dia.

Desde segunda-feira eu não trabalho. Por questões que até agora ninguém soube explicar bem, meu contrato ainda não foi fechado. Coisas de Recursos Humanos: existe a vaga, mas alguma complicação bizarra está embaçando a formalização do papel. Ou tudo dará errado e ficarei, oficialmente, desempregado. Enquanto isso, fico de molho.

Por mais incômoda que seja a incerteza do meu emprego, os dias têm sido relativamente agradáveis. Digo relativamente porque os problemas atuais vão muito além da carteira de trabalho.

Após mais de quatro anos de faculdades, estágios e afins, é realmente bom ter uma quarta-feira livre. Não tiro férias de tudo desde o dia 2 de abril de 2004. Andar por aí pode parecer o passatempo mais idiota e insosso do mundo, mas não é. Dá pra pensar sobre todos os meus problemas e também parar de pensar sobre eles enquanto converso com algum amigo que encontro ao acaso.

E, uma das melhores coisas: posso usar aquela camisa surrada dos Beatles, que veste melhor do que qualquer roupa do mundo, mas é inadequada para o trabalho.

É disso que eu preciso agora: sentir-me confortável. Nem que seja pelo simples fato de usar uma camisa amaciada pelos anos e poder caminhar sem pressa, pra lugar algum.

domingo, setembro 02, 2007

Desisto.

Sei que é o maior lugar-comum da esfera bloguística começar algo citando a “Sorte de hoje” do Orkut. Mas não pude evitar.

“Você é sociável e divertido”, me diz o mecanismo que é um equivalente virtual do Livro de Pensamentos da Ana Maria Braga. É tão importante que alguém me diga isso atualmente. Estou tentando tornar-me uma pessoa mais sociável e, por tabela, divertida.

Isso realmente confirma minha suspeita – e sei que não sou o único a pensar sobre isso – de que o Google é realmente Deus? Coincidência? Ou seria apenas um gesto simpático do Orkut para comigo?

Mas, de fato, descobri que ser sociável, simpático, divertido e amistoso, além de todo tipo de coisa que faz as pessoas legais serem pessoas legais, é muito difícil. Até tenho tentado sair mais de casa, interagir com a humanidade e tudo o mais, só que é realmente trabalhoso.

Ontem tentei botar minha sociabilidade em prática, na despedida de um amigo meu do colégio, que como outras trocentas pessoas decidiu fazer intercâmbio na Espanha.

Logo que chego à festa me sinto uma virgem no prostíbulo, por conta de uma série de características que me fazem destoar daquela massa alegre em clima de curtição. Exemplo:

Sou a ÚNICO homem no local que não está vestindo uma camisa tipo baby look.

Não sou saradinho nem gordinho como todos os outros. Não há meio-termos.

Provavelmente, a única criatura bebendo algo não alcoólico. Ok, levar chá de pêssego para uma festa é incomum, mas não deveria ser visto com algo tão absurdo assim.

Não estou calçando nenhum tênis da Nike.

Nem estou usando um par de Havaianas brancas com a bandeira do Brasil. Aliás, alguém sabe me explicar que maldita tendência é essa? Contei sete caras usando chinelos idênticos.

Enfim, não consigo simpatizar com essas pessoas, conversar com elas, escutar a música que elas escutam (muito menos, dançar!) ou rir das mesmas coisas que elas riem. Por que, afinal, de que elas riem?

Não quero mais ter o status “baladeiro de plantão” no meu Orkut.

sábado, setembro 01, 2007

FDP por engano

E não é que esta semana o meu suposto inimigo que andava me xingando de fdp acabou descobrindo que estava ofendendo a pessoa errada?

Após mais uma de suas ligações, perguntei ao cara por que diabos ele estava me xingando.

“Pô, Diego!”, ele disse.

Diego? O cara me ligou quatro ou cinco vezes achando que eu era um suposto Diego-filho-da-puta.
Após alguns segundos de conversa comigo ele acabou se convencendo que eu realmente não era Diego, o filho da puta.

Essa história merecia um desfecho mais interessante!

sábado, agosto 25, 2007

!

Atingi o ápice da irritação no meu atual inferno pessoal:

1 – Alguém sem muita criatividade me ligou três vezes me chamando de filho da puta. Espero que não seja um assassino em potencial, mas só um demente.

2 – Manchei uma das minhas camisas favoritas trocando o pneu do carro que furou. Sim, sou fútil.

3 – Ainda sobre o carro: num momento de distração, hoje, dei ré sem olhar para trás e detonei a traseira num depósito de metralha. Uma lanterna quebrada, um tremendo amassado no porta-malas e um lado do pára-choque bastante arrebentado. O conserto será bem caro.

4 – Fui demitido antes de ser admitido. Cancelaram misteriosamente meu contrato logo depois do meu teste de admissão, sem nenhuma explicação aparente. A vaga que antes existia sumiu e ninguém ainda conseguiu explicar bem essa zorra. Será que eu fiquei pelado à toa no exame médico?

Queria ser o Michael Douglas em Um dia de fúria. Descontar a raiva em pessoas. Acho que o ideal seria bater em alguém. Mas como nunca bati em ninguém, creio que apanharia. Bastante, aliás.

A não ser que eu tente arrumar briga com uma criança. Vou aproveitar que é McDia Feliz e tentarei encontrar algum garotinho com câncer terminal saindo de uma sessão de radioterapia. Talvez aí eu tenha alguma chance. Seria um páreo difícil, de todo jeito.

sexta-feira, agosto 24, 2007

Malhação remix

Tem momentos em que acho minha vida parecida com uma versão mix dos piores momentos de Malhação. Não exatamente que Malhação tenha algum bom momento a ser comentado. Refiro-me aos diálogos sem nexo, conspirações juvenis, trilha sonora lamentável, intrigas e péssimos atores, essa mistura de elementos que, provavelmente, são os responsáveis pelo sucesso da novela.

Com bem menos Ibope e igualmente massacrado pela crítica, estou eu. Não sei exatamente o que há de errado com o meu roteiro – aliás, até sei – mas a novela, quer dizer, vida, é minha. Portanto, eu deveria escolher os atores e o todo o resto. Só que não está acontecendo.

Uma revelação bombástica aqui, uma participação especial ali, um suspense pra lá e perco todo o rumo da coisa: muita parece querer dar sua contribuição. E, em muitos casos, a contribuição ganha outro significado. Totalmente bizarro, eu diria.

Preciso tomar as rédeas novamente.

terça-feira, agosto 21, 2007

Cadê a Era de Aquário?

Faz algum tempo que perdi a fé nos humanos. E olhe que eu não sou o único espécime que me levou a essa constatação. É impossível mudar o mundo ou qualquer coisa. Não é preguiça nem pessimismo. Não dá mesmo.

A razão da impossibilidade de mudar as coisas é, inevitavelmente, a existência de humanos. Se exterminarmos 98% da população, talvez algo possa ser feito. De outra forma, só mesmo quando a Lua estiver na Casa 7 e Júpiter alinhado com Marte e a Era de Aquário começar. Até lá, nada de visões de sonhos dourados nem revelações de cristais místicos.

Hoje uma pessoa ligou para meu celular, chamada desconhecida. “Filho da puta”, é a única saudação que o amigo oculto manda. Tudo bem me achar um fdp, é uma opinião.

E, por favor, NÃO estou discutindo a honra da minha mãe.

Se expressar é importante. Mas não custa nada dar pelo menos um “oi” ou “boa tarde”! É, sim, possível xingar o outro de forma educada. Também seria legal que o indivíduo se identificasse. Isso é fundamental para que eu possa entender a razão de ser xingado.

Tudo bem, eu estaria sendo hipócrita, tendo mandado o Netinho se foder sem me identificar. Mas de que adiantaria pra ele dizer que sou Breno Pessoa. Ele deve entender que o problema é com música dele e não algo pessoal. Grato!

Faça da sua ofensa algo construtivo. Aceito sugestões, reclamações e ofensas, mas com justificativa. Me ajude a entender por que sou um filho da puta. Grato!

quinta-feira, agosto 02, 2007

sexta-feira, julho 06, 2007

De raspão

- Com licença, é um assalto...

Metade do pessoal que estava no restaurante pára pra ver o sujeito, meio gordinho e baixinho que entrou correndo no local. O cara não tinha a menor pinta de assaltante, mas antes mesmo ele terminasse a frase, muita gente já estava assustada.

Gritinho pra cá, gemidinho pra lá, quase todo mundo fica com cara de bunda esperando o cara sacar a arma. O restante, estava absorto comendo, provavelmente, um prato de macaxeira com charque, o prato mais sofisticado que se pode exigir de um restaurante de beira de estrada.

Pânico instalado, o sujeito tenta reformular sua frase inicial.

- Olha, é um assalto que...

Não consigo ouvir o resto do que ele diz porque uma mulher veio preocupada falar que estava nervosa com o assalto.

Os garçons começam a fechar as portas do restaurante. E eu começo a perceber a situação: estávamos sendo assaltados e para que ninguém percebesse o que estava se passando lá dentro, o assaltante mandou fechar as portas.

Fodeu.

Logo em seguida, os garçons começam a observar pelas janelas. Alguém diz ter ouvido tiros. E gordinho fala outra vez. E ouço claramente.

- Tá tendo um assalto no restaurante do lado.

Ah.

Depois de alguns minutos nisso, decidimos que seria melhor sair de lá e correr para o carro.

“Bem que eu não queria mesmo parar nessa porra de restaurante”, pensei quando voltei para o carro. Estava voltando de uma viagem de trabalho um tanto sacal e o que mais queria era dormir.

Hoje, pela manhã, vejo na manchete do jornal: SUPERINTENDENTE DA POLÍCIA ASSASSINADO - Lourinaldo Vitorino foi morto durante assalto a um restaurante localizado na BR-232.

Exatamente no restaurante próximo de onde estava. E haviam até cogitado parar lá, minutos antes. Sorte.

sexta-feira, junho 29, 2007

O Globo Repórter nosso de cada sexta-feira

Não que eu tenha marcado a opção “baladeiro de plantão” no status do meu Orkut, mas pouca coisa deprime tanto numa noite de sexta-feira quanto ouvir a voz do Sérgio Chapelin anunciando o próximo bloco do Globo Repórter.

“Você sabia que o prazer de viver é o melhor de todos os remédios? Veja a seguir”, diz o centenário apresentador chamando os comerciais. Tenho lá minhas dúvidas se revezar a apresentação do Globo Repórter com o Cid Moreira durante décadas desperta prazer de viver em alguém.

O próprio Cid Moreira foi procurar prazer em outras coisas, como gravar os salmos da bíblia e narrar as façanhas do Mister M. Não sei se essas coisas funcionam; nem tenho desejo de experimentar.

Pensando bem, versar sobre a alegria e o prazer de viver de Cid Moreira e Sérgio Chapelin é ainda mais deprimente que o próprio Globo Repórter. Principalmente numa noite chuvosa de sexta-feira. Em casa.

Ainda bem que já é quase sábado.

terça-feira, junho 26, 2007

O efeito Sempre Livre

Sinto-me como se fosse uma garota numa propaganda de absorvente. Aquela sensação de liberdade que só o Sempre Livre ou o Intimus Gel parecem poder proporcionar.

Não que antes eu não pudesse andar de bicicleta usando um short coladinho, passear de cavalo ou ir à praia, como prometem os absorventes. Mas sinto aquela liberdade que apenas as mulheres das propagandas de Modess têm.

Melhor dizendo, talvez meu estado de espírito esteja mais próximo da serenidade do pessoal que usa Lacto-purga ou toma aquele iogurte da Danone, o Activia. A mesma leveza. “E até a pele fica mais bonita”.

Terminei meu projeto de pesquisa da faculdade.

Acabou.

segunda-feira, junho 11, 2007

Passei de estágio

Depois de três longos anos estagiando sem tirar nenhum tempinho de férias, ganho, enfim... mais trabalho. Mas dessa vez, estou num plano superior. Comecei a prestar serviço como profissional (que ainda não sou). Salário bem melhor e mais afazeres; uma delícia!

Começa a minha expectativa para a contratação, férias remuneradas, carteira assinada, décimo terceiro e, claro, aposentadoria. Ah, sem esquecer o sonho da casa própria ou, se não der, um apartamento alugado já está de bom grado. Se possível, quero um imóvel com armários embutidos.

Para comemorar essa nova etapa da minha, ainda não tão vivida, vida, um resumo das coisas mais cretinas que ouvi quando estagiava.

O chefe quer bananas

“Olha, fulano, será que você pode compra bananas pra mim na venda aqui do lado. Eu to precisando de potássio”, pediu chefe para um dos boys do trabalho, mostrando o muque.

Gripe aviária no Brasi?

“Oi, aqui é fulana, da Folha de Pernambuco, eu tava querendo saber se vocês têm os número de pessoas infectadas pela gripe aviária aqui no Estado”, fulana, jornalista, me perguntando se a Secretaria de Saúde do Estado tinha esses dados. (Se você é tão desinformado quanto ela, saiba que a gripe aviária nunca alcançou nosso continente)

Deixa que eu chuto!

“Se machucou jogando futebol no final de semana, né?”, um jornalista querendo parecer simpático com um secretário do Estado que mancava, não por causa de uma pelada, mas por conta um acidente de carro sofrido anos atrás.

A palmeira do Marcos

“Ah, mas eu tava numa peça em que o Marcos Palmeira ficou pelado. E, menina, você nem imagina como é pequeno o pau dele. Mas o pau do meu marido, vou te contar...”, uma assessora de imprensa comentando com uma amiga dela AO MEU LADO, enquanto eu fazia, um teste de estágio lá. Fui aprovado no teste, mas não quis ficar lá. Nem a pau.

quarta-feira, maio 30, 2007

A primeira consulta urológica de um homem

Pelo menos a cada dois meses eu sofro alguma mazela e algum médico de emergência suspeita que eu estou com algum grande problema de saúde ou diz que eu tenho cinco minutos de vida.

Da última vez, disseram que eu provavelmente estava com pedras nos rins e que, em breve, deveria estar me contorcionando ao urinar. Não deu em nada.

Agora, disseram que por conta de um cisto que eu tenho no rim esquerdo – até pouco tempo considerado inofensivo – sofrerei infecções mil e todo tipo de provação.

Para o tira-teima, me indicaram uma visita ao urologista. Depois de um breve papo sobre minhas dores no rim esquerdo, o médico, que deveria ter uns 123 anos, me manda tirar toda a roupa.

Quer dizer, ele disse que eu poderia continuar com as meias. E se existe uma coisa mais ridícula que um homem pelado é um homem pelado usando apenas meias. A degradação em seu ápice.

O médico pede para que eu fique de costas. Obedecendo, percebo logo à frente uma bisnaga de vaselina. Se isso não é o máximo de como alguém pode se sentir indefeso, não sei o que é.

Então o médico me apalpa. Na região lombar, claro. Pergunta se sinto dor ao pressionar meu rim ruim. Dá uma sacada geral, acho que pra conferir se não tenho cranco mole ou sinais de alguma outra DST, e me manda vestir a roupa novamente.

No fim das contas, diz que eu não tenho nada. Ótimo. Desde que eu não sofra nenhuma outra mazela daqui a um mês.

Acho que a explicação do encosto gay é a mais plausível.

segunda-feira, maio 21, 2007

Crise de 1/5 da idade

No começo, era tudo demais, agora é apenas o mais. Estágio, faculdade, Mc Lanche Feliz e suco de uva Del Valle. Todas essas coisas já foram muito mais gostosas e hoje em dia não têm lá muita graça.

É uma sensação parecida com a que você tem logo que assina tv a cabo. Tudo parece uma maravilha, até o momento quando você nota a variedade absurda de encarnações dos Power Ranges sendo reprisada a todo o momento ou a imensa quantidade de documentários sobre o acasamento das libélulas africanas albinas que, por alguma estranha razão, vivem nas florestas equatorianas.

Mais do mesmo.

Daí o problema: sempre o mesmo sabor e os mesmos afazeres. E de vez em quando, recebo também algumas demonstrações de sadismo de algumas partes, o que torna a vida um pouco mais agitada, mas, não necessariamente, divertida.

Não digo que acho tudo essencialmente chato, irritante e insosso. Não sou pentelho a esse ponto. Cho Seung-Hui é que não gostava de nada.

segunda-feira, maio 14, 2007

Eu deveria ser indie

Após me aventurar pelos tortuosos pensamentos dos emos e quase virar o novo vocalista do Simple Plan, flerto agora com a cultura indie. Isso porque agora tenho um corte de cabelo moderninho.

Durante toda a vida, tive apenas duas variações de cabelo: curto ou médios mal aparados. Sempre pareceu razoável, já que permitia relativa quantidade de variações de penteado, como o “dividido no meio de nada”, “para o lado intangível”, a “franja surreal” ou “cacheado entrópico”.

Insatisfeito, apelei para um cabelereiro da moda, e não um dos habituais barbeiros que, em muitos casos, são barbeiros em todos os sentidos.

Logo que entrei no salão, descobri para onde iam os R$ 35 pagos pelo corte de cabelo: sapatos da Puma, calças caras e camisa da Lacoste do cabelereiro. Escolhi um corte que vi numa revista de cabelos japonesa e o moço fez uma “leitura” do visual para o meu perfil. Tudo bem afetado.

Fiquei um pouco preocupado durante o procedimento na minha cabeça, já que imaginava correr o risco de ficar com um visual tão gay quando o do dono do salão. E foi difícil não rir enquanto a cabelereiro dá umas requebradas ao som de Beck (sim, salão com ambientação sonora).

No fim das contas, gostei do resultado. Curto dos lados, maior e irregular em cima, além de uma espécie de moicano atrás. Não, não irei postar uma foto.

sexta-feira, maio 04, 2007

Eu deveria ser emo

Sempre me irrito com pessoas de baixo-astral que parecem gostar de chafurdar nas suas supostas misérias. Gente que fica deitada na cama olhando pro teto, sem perspectiva, enquanto o mundo acontece lá fora. Me incomodam bastante.

Mas esqueço que sou um deles. Pelo menos, um depressivozinho ocasional.

Vez ou outra, atinjo um patamar de intolerância:

Fico puto porque o cara do trabalho usa calças de moletom como se fossem roupas de verdade; sinto ódio dos macacos da Amazônia fazendo amor no Globo Repórter.

Tenho a convicção que não sou bom namorado; percebo que o que escrevo não é interessante, exceto, talvez, para mim mesmo.

Mando à merda o moleque que insiste em limpar o pára-brisa do carro; dou dedada pro motorista que ocupa duas faixas.

Enfim, me sinto triste, hipócrita e rabugento. Mais ainda por escrever isto.

E nem mesmo sei cantar ou tocar algum instrumento para tentar formar uma banda emo para transmitir minhas angústias adolescentes senis. Assim, teria chance de faturar uma grana.

sexta-feira, abril 27, 2007

Encosto gay

Estou eu saindo da sala do cinema quando o telefone celular toca. Vejo no display o nome do meu tio e imagino logo que é alguma cagada familiar. Doença, morte ou alguma coisa assim.

Tomo um susto logo que ele começa falar, mas não tem nada a ver com tragédia:

- Tem um gay no seu trabalho que dá em cima de você?

- Não, tio.

- Tem certeza?

- Olha, tem um cara que me curte, mas ele não dá em cima não.

- É que eu fui no espírita e ele disse que esses seus problemas de saúde têm a ver com um gay do seu trabalho que quer algo com você.

- Tem um “véio” que me adora, mas ele não faz nada demais...

- Mas você não quer nada com ele, né?

- Não...

(Parêntesis: Por que diabos todo mundo desconfia que eu sou gay?)

- Como ele não tem você, ele não quer que você seja de mais ninguém. Por isso que você está doente.

- Okay, okay...

- Tome cuidado com ele, viu?

- Certo, tio.

Como é que surge esse tipo de coisa? Um espírita diz pro meu tio que meus problemas de saúde têm algo a ver com um suposto olho gordo por conta de um cara que supostamente me curte? Achei que só os médicos tinham explicações bizarras paras minhas mazelas.

Se eu acreditasse, tomava um banho de sal grosso.

Até toparia acender um incenso, mas sou alérgico. E pior que alguém com encosto é alguém com encosto tendo uma crise de espirro.

segunda-feira, abril 23, 2007

Murphy para dias de chuva numa cidade calorenta

Já desisti de usar minhas camisas de manga comprida quando está um pouco frio e chuvoso aqui em Recife. Nunca dá certo

- Assim que eu saio de casa com minha roupa de inverno, começa a fazer um puta sol.

- Tão logo eu entro no ônibus, volta a chover.

- Não consigo pegar um lugar junto à janela.

- Todos os outros passageiros são sádicos o bastante para fecharem todas as janelas enquanto chove.

- Todos os passageiros continuam respirando, o que torna o lugar bastante abafado.

- Eu fico suando feito um porco agasalhado correndo pelo deserto de Gobi.

- A chuva passa, mas ninguém abre as janelas.

Quando eu desço do ônibus, a chuva volta e o clima fica um pouco mais frio. Mas não faz diferença mesmo. Já estou suado e cheirando a guardado, pronto para mais um dia de trabalho.

quarta-feira, abril 18, 2007

Pode não.

De quando em quando eu me pergunto pra onde vai toda informação produzida na internet. Sim, eu sei que tudo fica armazenado em servidores. Ok, mas onde estão estes servidores? E, o mais importante, como diabos cabe tanta coisa nessas máquinas?

Existem milhões de pessoas escrevendo blogues e colando informação em algum lugar da internet. E, ainda por cima, dá pra encontrar toda a discografia do Roberto Carlos e todas as temporadas dos Simpsons.

Onde é que fica tudo isso. E os gmails com seus dois gigas de capacidade? E aquelas fotos-da-festa-que-ficaram-ótimas que milhões postam todos os dias no Orkut?

E até hoje eu fico impressionando com o funcionamento de uma televisão (não entra na minha cabeça isso de imagem e som voando pelo espaço e aparecendo num tubo através de uma antena). Acho sofisticado demais. Imagina isso de internet.

Sinceramente, acho que a internet não existe. Pode não um negócio desse. É tudo mentira. E você também.

terça-feira, abril 17, 2007

Minha querida Sodoma

É a mesma coisa diariamente. Chego em casa e escuto minha mãe falar do dia de trabalho dela no banco. Aquele papo “ah, um cliente queria sacar R$ 1 milhão da conta dele” ou “faltou dinheiro nos caixas eletrônicos”, com pouquíssimas variações.

Não tenho saco de ouvir isso, porque também todo dia passo por uma rotina efandonha na redação do jornal. Meu trabalho como (quase) jornalista não é nem um pouco emocionante. Não consigo viver a minha monotonia e ainda escutar sobre outro cotidiano tedioso.

Quem me dera viver as aventuras do saudoso Tim Lopes. Pena que nem mesmo ele conseguiu sobreviver às suas aventuras, mas isto é apenas um detalhe.

O pior de tudo é que parece existir, dentro de mim, um certo prazer em trabalhar com isso. Uma relação masoquista que nem Sade poderia descrever direito. Acho que criei minha própria Sodoma.

sábado, abril 14, 2007

Fundo preto (opa!)

Desde que descobri que a cor branca consome mais energia, decidi mudar a cor de fundo do blog. Afinal, já bastam milhões de pessoas acessando as páginas brancas do Google a cada segundo.

Engajamento é isso aí.

quinta-feira, abril 12, 2007

A doença? Você decide.

Com resultados do hemograma e do sumário de urina prontos, imagino que vou ter a raiz dos meus problemas. Ou, pelo menos, descobrir quais os meus problemas.

Cálculo renal e infecção urinária foi o primeiro diagnóstico após uma médica sugerir que fosse gastrenterite.

Mas um ultra-som hoje pela manhã não detectou cálculos. Pelo menos, não dos visíveis.

E meu médico acha que não estou com uma infecção urinária. Mas ele também não sabe que outra coisa eu tenho.

Enfim, só sei mesmo é que está me incomodando um bocado. Maldita-seja-lá-qual-for doença.

quarta-feira, abril 11, 2007

Uma dose de soro com Buscopan, por favor

Ficar doente no meio da semana pode parecer muito divertido. Até porque qualquer coisa durante o horário de trabalho parece muito divertida, desde que não seja trabalho. Mas quando a doença exige que você tenha de ir ao hospital, as coisas não ficam nem pouco divertidas.

Os males ideais para se ter no meio da semana são gripe, diarréia, febre ou, no máximo, uma dengue. Qualquer coisa além disso torna as coisas complicadas demais. Muito melhor é trabalhar.

Desde ontem estava com um tremendo mal-estar. Piorou hoje pela manhã. Um grande desconforto no estômago, ânsia de vômito e enxaqueca. Coisas que sofro de vez em quando, por conta da minha gastrite crônica.

Afinal, já tenho 22 e quase todos da minha geração sofrem de problemas semelhantes desde os dez anos. Exceto, claro, os filhos de banqueiros e juízes.

A origem da minha gastrite está relacionada à má alimentação ou ao estresse do dia-a-dia. Ou por conta dos dois fatores. Coisas que nossos pais só sentiam aos 50 anos, já perto da aposentadoria.

E, hoje, descobri uma nova mania nos hospitais. Depois do hype das viroses, a moda é botar todo mundo pra tomar soro. Seja por conta de uma gripe, fimose, diarréia, gastrite ou unha encravada. Praticamente todos os pacientes que foram atendidos enquanto eu estava no hospital foram tomar soro.

Inclusive eu.

De qualquer forma, tem seus momentos divertidos. Soro com Buscopan dá um barato legal. Taquicardia, vista embaçada, boca seca e sensação de relaxamento. Uma beleza.

O que eu tenho? A médica não disse. “Talvez uma gastrenterite”, sugeriu. Certeza, só depois do resultado dos exames de sangue e de urina. Pelo menos não solicitaram coleta de fezes.

quarta-feira, abril 04, 2007

Einstein e os pedintes

Sei que depois de Einstein e a sua Teoria da relatividade, o tempo se tornou um conceito ainda mais subjetivo. Só que há quase um ano - pelo menos umas três vezes por mês - vejo uma pedinte mirim no ônibus mendingando por uns trocados porque sua “mãe está doente e o pai faleceu recentemente.”

Em lugar nenhum do mundo um ano é considerado recentemente.

E isso me irrita mais do que um “senhôras e senhôre passageiiros, descuulpe incomodáá” pronunciado naquela cadência bizarra que só os pedintes de ônibus sabem fazer.

Não sei quem botou na cabeça deles que isso pode cativar alguém. Enchi o saco de pedintes que têm três mães doentes, dois pais mortos e um irmão grávido. Sem contar que o texto ainda inclui a tradicional afirmação que “é melhor pedir do que ta fazenu coisa errada, roubano e mantano.”

Prefiro os bandidos, são muito mais sinceros, objetivos e eficientes. Eles, sim, sabem ganhar dinheiro. E, o melhor, sem ter de ler auto-ajuda empresarial.

segunda-feira, abril 02, 2007

Louro José e as reminiscências

Acredito realmente que déjà vu é um fragmento de coisas já vividas e, não apenas, uma sensação enganosa. Acho que a maldita existência de cada um já está traçada e se repete a todo o momento. Acredito que minha vida já acabou e que todo santo dia eu repito dias anteriores, de semanas atrás, anos ou décadas. Por que isso? Não sei.

E hoje, percebi algo que já aconteceu no passado se repetir no presente.

Estava eu na UNE esperando minha carteira de estudante ser entregue, quando vejo na TV a Ana Maria se casando. Tenho consciência de ter visto a Ana Maria casando umas dez vezes, desde os tempos que ela trabalhava na Record. Isso só pode ser um tipo de memória passada.

Acho que deveríamos ter bloqueios mentais para impedir esse tipo de reminiscência envolvendo a Ana Maria Braga.

terça-feira, março 27, 2007

O mal não tem fim

Depois de um mês conturbado no meu prédio, a banda Sapêko finalmente se mudou. Na verdade, foi algo no meio-termo entre ser convidada educadamente a retirar do edifício e uma expulsão.

Eu jurava que eles eram daqui do Estado, mas, na verdade, são da Bahia. Imagino que, massacrados pelo axé, decidiram tentar a sorte por aqui. E como Recife é a terra da pluralidade dos ritmos, do caboclinho ao metal, passando pelo maracatu e brega, parece natural se mudar pra cá.

Basta fazer barulho que todo tipo de banda vem tentar a sorte por aqui. Foi assim com Capim Cubano, que veio da Paraíba e passou um longo tempo assolando os bares da cidade e casa de shows.

E agora o Sapêko. Saiu do meu prédio, mas ontem mesmo vi um cartaz colado num muro anunciado a apresentação: “Sapêko, direto da Bahia”. Espero que não dure muito a turnê.

terça-feira, março 20, 2007

Pequenos aborrecimentos da vida em prédios

Durante muito tempo reclamei aos céus por ter vizinhos integrantes de uma banda de pop rock. Em todo final de semana eu era obrigado a escutar ensaios em que eles tocavam grandes clássicos do cancioneiro nacional, passando de Capital Inicial a CPM 22.

Até que um dia que a banda se acabou ou os vizinhos se mudaram. Não sei o que aconteceu, não me relaciono muito com os vizinhos - assim como faço com boa parte das pessoas do trabalho, da vida, dos ônibus e de todo o resto.

Mas a paz musical foi interrompida após algumas semanas. Um grupo de pagode alugou um apartamento ao lado do meu. Pagode Sapêko o nome da banda.

Ponto positivo: eles têm o bom senso (talvez o único senso) de não ensaiar no apartamento.

Ponto negativo: eles adoram experimentar suas habilidades musicais com o cavaquinho térreo do prédio.

E quase todo dia quando chego em casa, me deparo com a triste cena dos integrantes da banda tirando som. Talvez eles até tenham um talento, mas o problema é acharem que esse talento está, justamente, na música.

quarta-feira, março 14, 2007

[ ]

Logo no início da manhã, comecei a rascunhar na mente o que iria postar hoje. No momento, achei a idéia divertida e relevante, mas não a escrevi na hora porque estava muito preocupado em ver o último episódio da minha atual série favorita.

E agora, poucas horas depois, não lembro de nada do que pretendia escrever. Tentei reconstituir na cabeça a primeira hora do meu dia: abri os olhos, rolei na cama, urinei (fora dela, claro), comi um pastel de nata e liguei o pc pra ver a série. E nada mais.

O que pensei entre o rolar na cama e ligar o computador eu não lembro. Sofrer pré-Alzheimer aos 22 anos só não é pior porque amanhã eu já nem lembro que tenho problemas com a memória.

terça-feira, março 13, 2007

Uma viagem inconveniente

Na chamada escola da vida, com toda certeza eu gostaria de gasear algumas aulas. Uma das lições desagradáveis de se aprender é: todas as pessoas solitárias tornam-se mais inconvenientes dentro de um ônibus.

Não tem coisa que me aporrinhe mais num ônibus do que desconhecidos tendando puxar conversa. Principalmente quando eu estou querendo ler aquele gibi que acabei de comprar na livraria ou terminar o último capítulo de um livro.

Mas hoje aprendi uma técnica que deve funcionar. Vi uma moça bonita sendo cascateada por um moço nem tão agradável. Quando ele começou a puxar conversa ela respondeu mexendo o ombro de forma incontrolável. Em seguida, começou a dobrar o pescoço pro lado.

Se era tique nervoso ou não, deu certo. O cara não falou mais nada e ela continuou seguindo viagem tranqüila, apenas mexendo algumas partes do corpo de forma caótica. Simples, eficiente e muito educado.

segunda-feira, março 12, 2007

Finge que eu gosto

Por muito tempo achei simular emoções era coisa de gente insensível como eu ou uma mania de pessoas idiotas. Agora tenho convicção de que todo mundo está fadado a fingir ser alguém que não é, uma ou várias vezes ao dia.

Eu, pelo menos, finjo ser outra pessoa dentro de casa. Lá eu não falo palavrão e tento parecer mais sereno e seguro. Escrevendo assim pode parecer coisa pouca, mas a diferença é notável. Dentro do lar eu sou outro.

Tenho plena consciência de que o doido sempre se acha mais são do que seus colegas de manicômio, mas me acho saudável, em relação a outras pessoas que me cercam. Afinal, meus motivos são nobres: a harmonia do lar.

Tem horas que quase toda relação entre as pessoas me parece um embuste. Sei que existe amor e afeto entre os humanos, mas não me entra na cabeça todos esses homens que são carinhosos e meigos exclusivamente com amigas bonitas ou chefes de trabalho.

Também não compreendo essas mulheres de 18 ou mais de 20 anos falando fofo e com trejeitos dóceis. Ninguém pode desenvolver essas características patéticas espontâneamente. É pura frescura adquirida, com propósitos obcuros.

Sempre reclamam de mim, fora de casa - claro -, por ser um tanto hostil ou até rude com as pessoas. Mas é algo espontâneo. Por que diabos ninguém reclama de alguém melososo em excesso e por que eles são socialmente mais aceitáveis que eu?

quinta-feira, março 08, 2007

Um dia sem quê nem para quê

Dar flores nunca serviu pra muita coisa. Todo defunto minimamente querido recebe uma boa quantidade de rosas e coroas de flores no seu enterro, mas o ato não surte nenhum efeito. Nada deles voltarem à vida depois da homenagem florida.

O mesmo pensamento vale pro Dia Internacional da Mulher. O fato delas receberem um botão de rosa vermelha todo santo dia 8 de março não muda nada. Até porque as mulheres são criaturas superiores. Parece um tanto sem propósito o ato.

Sexies (palavra estranha), mais inteligentes, com menos pêlos, dotadas de seios e bundas, elas sim dominam o mundo. Deixem as flores para outro dia. O dia seguinte, por exemplo.

Música portuguesa, ora pois!

Já que todo mundo que tem um blog vez ou outra recomenda o que gosta, lá vai uma sugestão de música



A maioria do público brasileiro tem Roberto Leal e seu “vira” como única referência de música portuguesa. Depois do trauma causado pelo sucesso do moço por estas terras na década de 90, é natural pensar que toda produção de Portugal tenha algo a ver ternos brancos, dança espalhafatosa e som cafona. Neste caso, ter preconceito é quase um instinto de defesa. Mas existe, sim, música portuguesa de qualidade.

Conheci por acaso, há uns dois anos, um grupo chamado Clã. E é uma das melhores coisas que escutei neste período. Difícil classificar o som, algo entre um bom pop e rock, só que sem guitarras. São dois baixos, dois teclados, bateria e uma voz feminina poderosa garantem um resultado muito bom.

Fica algo entre Mutantes e Pato Fu, só que com charmoso sotaque luso. Quem quiser conhecer, pode visitar o site e ouvir muitas músicas em stream ou procurar no e-mule, como o próprio tecladista da banda me recomendou, já que o grupo não tem nenhum dos seus cinco álbuns lançados por aqui.

Dá pra encontrar o Clã também em participações especiais, como na última faixa do disco Toda cura para todo mal, do Pato Fu, e no O irmão do meio, do também português Sérgio Godinho.

A quem interessa, o nome dos bois: Hélder Gonçalves (baixo piccolo e voz), Miguel Ferreira (teclados e voz), Pedro Biscaia (teclados), Pedro Rito (baixo), Fernando Gonçalves (bateria) e Manuela Azevedo (voz).

Devagar divagação sobre divagar

Sinto um certo incômodo em viver, não por qual motivo. Não, isso não é nenhuma carta suicida nem uma reflexão depressiva. Sinto desconforto por não saber a razão das coisas. E tem dia que isso dá uma agonia, principalmente quando se está dentro de um ônibus no engarrafamento. Impossível não pensar.

E depois de pensar e pensar sobre as questões fundamentais do universo no trajeto de volta pra casa (e não conseguir a resposta de nenhuma), fico um tanto mais perturbado. Me bate uma sensação parecida com hemorróidas. E tal qual varizes no ânus, não consigo ficar sentado por muito tempo. Uma ansiedade constante, vontade de fazer tudo.

Fico lendo uns dez livros no mesmo período, vários pedacinhos de cada um em dias alternado. Arrumo a coleção de gibis, vejo seriados, como chocolate, jogo no computador ou fico andando pra cá e pra lá pela casa.

A necessidade de me manter ocupado tem atingido níveis absurdos de absurdo:

Tarde livre? Vejo o filme novo da Turma da Mônica ou Turistas no cinema.

Nada pra fazer de manhã? Vou a praia ler gibi na areia.

Chego mais cedo do trabalho? Passo no shopping pra comer pão de queijo e tomar cafezinho ou vou correr destrambelhado no calçadão.

Acabo não me concentrando em nada. Ando disperso feito palavras numa música do Djavan. Por que tudo isso?

sábado, março 03, 2007

Eclipse

Não sei por que, mas tenho a impressão que todo ano acontece um ou dois eclipses desses que dizem que só vão acontecer novamente daqui a 100 ou 1003 anos.

Sempre a mesma balela na televisão: “o eclipse só será visto novamente daqui a oito décadas e muita gente se aglomera nos observatórios para conferir o fenômeno e blá-blá-blá”.

De onde é que sai tanto eclipse?

Falta de assunto.

A pedidos (poucos, é verdade, mas sinceros), estou de volta. Encerra-se aqui o recesso deste blog.

A decisão de parar de escrever não foi por conta falta de tempo, mas de criatividade. Mais especificamente, falta de assunto. É difícil arrumar algo sobre o que escrever.

Sabe aqueles momentos em que você inevitavelmente fica com cara de bunda olhando pra outra pessoa sem ter o que falar? Quando o conhecido do trabalho que senta do seu lado do ônibus e você não consegue conversar, exceto, no máximo, dizer que está muito quente lá fora ou soltar algumas palavras sobre a péssima comida do refeitório da empresa? Pois é, sinto isso toda hora.

Padeço deste mal, não só com desconhecidos, mas também com os mais chegados. Acho coisa complicada por demais conversar. Não tenho o timing. Fico num estado crônico de cara de bunda.

Desconfio que a primeira frase que aprendi a falar foi um reticente “pois é”. Preciso treinar mais.

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Férias

Para evitar atualizações ainda mais esporádicas, vou entrar de férias do Resto de nada a partir de hoje. Continuo escrevendo, mas no meu outro blog Vacacaga, que divido com amigos. Volto aqui no próximo dia 22 de agosto deste ano, quando provavelmente terei mais tempo (e criatividade) sobrando. A quem acompanhou o blog, obrigado. Continue lendo o Vacacaga.

domingo, fevereiro 18, 2007

Calcinhas ao léu

É bem normal tropeçar em pedra de vez em quando, mas hoje tropecei numa calcinha. E poucos metros depois, vi outra. Coisa incomum, creio. Mesmo sendo Carnaval. Até porque eu não estava numa grande suíte de motel ou num bordel. Apenas voltava do trabalho pra casa.

Parei pra pensar no razão das calcinhas estarem lá. De quem seria as peças íntimas? Olhei ao redor, vi o franelinha mendigo que está sempre embriagado e ninguém mais. Pouco provável que sejam usadas por ele ou representem alguma uma conquista amorosa recente.

Quem soltaria calcinhas numa rua deserta como aquela? Será que o desejo foi tão grande que simplesmente jogaram as calcinhas no chão num ímpeto de desejo?

Se fosse perto de onde moro, tudo bem. Meu prédio fica numa via comercial de sexo, com grande variedade de moças, rapazes, crianças e seres inclassificáveis (se procurar direitinho, acho que dá pra encontrar até animais silvestres se prostituindo). Ali, sim, consigo conceber esse tipo de coisa. Perto do jornal onde trabalho, não.

Seriam de alguém do trabalho que resolveu se aventurar depois de um plantão na redação?

Carnaval, Carnaval... um período de queda para as calcinhas e cuecas.

sábado, fevereiro 10, 2007

A favor do eterno embriagamento sóbrio.

É fantástico como nós, seres que usam samba-canção, tornam-se tão mais doces depois de algumas doses de álcool. Claro que os alcoólatras e caras vestidos de abadá atrás do trio elétrico representam o extremo oposto disso. Falo dos caras legais, não dos tipos mais cretinos.

Quantas vezes você, barbudo, não sentiu falta de um abraço mais demorado num velho amigo ou até mesmo quis dar um beijo na bochecha do amigão da faculdade e trabalho? Claro que na maioria das vezes nem passa pela sua cabeça, pelo simples fato de achar isso muito gay.

Pessoas com peitos e bundas salientes sempre parecem mais adequadas para receber as demonstrações de afeto masculino.

Mas eis que você está numa festa com seu amigão e, depois de se afogar no Jack Daniel’s, toma coragem pra aquele abraço apertado no cara com quem você passa um bom pedaço de vida junto. Aquele com quem você faz intercâmbio de quadrinhos, fala dos problemas e conta piadas. O parceiro da cerveja e do hambúrguer de rua.

E naquela dose você se dá conta do quanto gosta daquele cara. Um lampejo. Você o ama, e não é porque está bêbado. Simplesmente porque ele é um amigo, de verdade.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Muita gente considera a velhice como a pior fase da vida, por conta das rugas, cabelos brancos, manias e ossos frágeis. Mas acho a adolescência bem mais depreciativa. Principalmente a masculina.

Hoje mesmo estava no ônibus e vi dois meninos, ambos com uns 13 anos, conversando animadamente sobre mulheres (meninas da idade deles, provavelmente) e sexo (duvido que algum deles tenha experimentado algo além do onanismo*). E eu achando patético o papo deles:

“Mermão, tu ainda é virgem, é? Oxi, eu já fudi muito, vê”, diz o mais esteticamente desagradável deles, abrindo a carteira.

Eu no banco detrás, mais elevado do que eles, observo o objeto dentro da carteira: uma camisinha.

“Eita, é de banana”, fala baixinho o outro.

“Intão, é banana com sabor de banana”, responde o guri, achando seu próprio comentário bastante engraçado, provavelmente pelo humor sutil.

E os dois se acabaram de rir.

Retardados, pensei eu. Até o momento em que me lembrei da camisinha que eu levava sempre quando tinha essa idade. Era um chaveirinho de acrílico transparente, com uma camisinha dentro e a mensagem “quebre em caso de emergência”.

Acho que andei com ela até uns 15 anos, quando a camisinha começou a mostrar sinais de deterioração, ficando marrom e ressecada. Eu também me gabava do meu troféu, mesmo ele estando sem uso. Lamentável. Mas pelo menos o preservativo não era sabor banana.

*Um pouco de cultura inútil: pra quem não sabe, a palavra onanismo vem do nome Onã, um personagem bíblico que praticava coito interrompido. No sentido bíblico, em lugar de significar automasturbação masculina, praticar o onanismo é o mesmo que tirar antes de gozar.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Coçar, de todas as formas

Presente do Indicativo
eu coço
tu coças
ele coça
nós coçamos
vós coçais
eles coçam

Pretérito Perfeito
eu cocei
tu coçaste
ele coçou
nós coçamos
vós coçastes
eles coçaram

Pretérito Imperfeito do Indicativo
eu coçava
tu coçavas
ele coçava
nós coçávamos
vós coçáveis
eles coçavam

Pretérito Mais-que-Perfeito
eu coçara
tu coçaras
ele coçara
nós coçáramos
vós coçáreis
eles coçaram

Futuro do Presenteeu coçarei
tu coçarás
ele coçará
nós coçaremos
vós coçareis
eles coçarão

Futuro do Pretérito
eu coçaria
tu coçarias
ele coçaria
nós coçaríamos
vós coçaríeis
eles coçariam

Presente do Subjuntivo
eu coce
tu coces
ele coce
nós cocemos
vós coceis
eles cocem

Pretérito Imperfeito do Subjuntivo
eu coçasse
tu coçasses
ele coçasse
nós coçássemos
vós coçásseis
eles coçassem

Futuro do Subjuntivo
eu coçar
tu coçares
ele coçar
nós coçarmos
vós coçardes
eles coçarem

Imperativo Afirmativo
coça tu
coce ele
cocemos nós
coçai vós
cocem eles

Infinitivo Pessoal
eu coçar
tu coçares
ele coçar
nós coçarmos
vós coçardes
eles coçarem

Gerúndio
coçando

Particípio
coçado

Ai, maldita falta do que fazer...

Vacacaga


Já que as atualizações andam espaçadas por aqui, aproveitem pra conferir também o blogue Vacacaga, da qual eu faço parte. Está apenas com um texto meu, mas até sexta-feira serão postadas novidades daqueles que dividem o Vacacaga comigo.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Uma versão do Instituto Xavier em Jaboatão dos Guararapes? Ainda descubro isso.
Fica difícil escrever sobre qualquer coisa quando não acontece nada que mereça comentário. O que acontece de interessante hoje em dia?

Anunciam o rei a rainha do carnaval, o presidente do Banco Mundial aparece com meias furadas, Gisele Bündchen mostra o novo namorado e o Cauby Peixoto lança seu novo álbum.

Talvez no plano pessoal a coisa pudesse ser mais interessante. Desde que eu tivesse uma vida pessoal. Até que me sobra algum tempo pra viver, só que dá uma preguiça... Falta disposição até pra escrever, afinal, vou escrever sobre o quê?

Como diz um grande amigo meu, “era bom uma epidemia de zumbis pra animar as coisas”. Concordo. Mas uma invasão alienígena também seria ótima pra quebrar esse gelo.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Com o dedão no meu cóccix, a monja que faz shiatsu vem dizer que meu QI está desequilibrado. Passado o susto de pensar que a palavra de duas letras terminava com "u" e começava com um "c", em lugar do "q", me dei conta que eu não devo ter sequer mais qi.

Pra quem desconhece, não é do "qi" de quociente de inteligência que falo, mas o ch'i ou ki, um termo da medicina chinesa que pode ser entendido como a energia vital do corpo. Sim, é a mesma força que os Cavaleiros do Zodíaco, personagens de Dragon Ball utilizavam para manipular e concentrar seus poderes.

Já o shiatsu, grosseiramente falando, é uma massagem terapêutica em pontos estratégicos do corpo, que têm relação com o qi. O cóccix é um dos pontos. Pelo menos pra essa monja.)

"E o que faço pra reequilibrar o qi?", pergunto.

A resposta é vaga. Ela me sugere coisas do tipo: "Não guarde emoções, se alimente bem, durma
mais", etc.

"Se eu fizer tudo isso vou virar um sayajin?", indago.

"Hã?"

Depois disso desisti de perguntar. Não suporto gente sem conhecimento de cultura pop.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

O profeta Jeremias era um mutante: “Foi Deus quem fez de Jeremias uma cidade fortificada, uma coluna de ferro, e muralhas de cobre contra toda a terra", disse o padre durante uma missa que vi no domingo.

Pelo que entendi, Jeremias adquiriu uma espécie de invencibilidade e virou um Capitão América bíblico. Ou, no mínimo, ganhou corpo fechado. E ele ainda escreveu o livro das Lamentações, algo muito mais baixo-astral que qualquer queixa que eu escreva.

Mas, de acordo com o padre, muito mais importante que a coluna de ferro e os demais aparatos era a sinceridade de Jeremias. Segue um trecho do sermão:“Todos podem ser profetas. Profeta é quem fala a verdade, quem é sincero. O profeta é aquele que não massageia o ego do próximo. É preciso dizer a verdade. Pra que elogiar o colega de trabalho quando ele não é competente, só por amizade? Por que negar que sua esposa está gorda, quando é importante pra saúde dela que esta em forma?”

Seja profeta também e diga que este blogue é chato.

Seja profeta e diga pra sua mãe que ela é sem-noção.

Fale também pro seu vizinho lutador de jiu-jitsu que ele é um otário. E fique contando com a coluna de ferro.

terça-feira, janeiro 23, 2007

No último desfile do Fashion Rio, semana passada, Gisele Bündchen recebeu R$ 2 milhões para desfilar. Por 70 segundos. Fiz as contas para saber quantos segundos levaria para ganhar esse mesmo valor trabalhando seis horas por dia, recebendo R$ 450 por mês, que é meu atual salário.

Levaria cerca de 1.919.808.000 segundos. Ou mais ou menos 4,4 mil meses. Algo em torno de 370 anos. Nunca chegarei lá se continuar sendo estagiário. E olha que por R$ 2 milhões muita gente faria muito mais coisas que apenas desfilar.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

A vida parece um filme pornô. Tirando a parte do sexo, é tudo igual: um roteiro sem nexo e péssimos atores. Claro que no mundo real as pessoas também trepam, mas é diferente dos pornôs.

Existem motivos muito mais complexos do que os argumentos tradicionais dos filmes. Aposto que ninguém nunca convenceu a levar o outro pra cama dizendo “vamos, foder, vai ser divertido” ou qualquer um dos outro chavão do mundo pornográfico. E acredito também que os bombeiros e entregadores de pizza façam bem menos sexo do que nos vídeos pornôs. Mas nunca se sabe.

E sim, como nos pornôs a trilha sonora é uma bosta. Pelo menos é assim na cidade onde vivo. Basta conferir qualquer agenda “cultural” para provar que estou certo:

Terça-feira: Projeto Terça de primeira no Pagode da Wanda, no Bairro do Recife

Quarta-feira: Capim Cubano (sempre eles) em algum lugar da cidade.

Quinta-feira: Capim Cubano (mais uma vez) em outro lugar da cidade.

Sexta-feira: Capim Cubano (claro!), em alguma festa latina na cidade.

Sábado: Show de Chiclete com Banana na praia de Tamandaré.

Não poderia deixar de comentar mais uma semelhança com a realidade: o baixo orçamento. Assim como salário mínimo e bolsa de estagiário, a falta de grana é algo recorrente em produções como Manicures anais, Desejos molhados ou Duro como pedra. Aliás, este último é um filme gay de uma produtora nacional, chamada Pau Brasil. Criativo.

De todo jeito, na vida real ninguém implora pra ser fodido (yeah, man, fuck me like a bitch), exceto entre quatro paredes (se bem que a quantidade ou existência de paredes é algo muito relativo). Também, nem precisa pedir. Tem sempre alguém querendo lhe foder. Literalmente ou não.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Duas aspirinas são a entrada do meu café-da-manhã hoje. Aliás, seriam, se eu podesse tomá-las. Sou alérgico a ácido acetilsalicílico, presente nos famosos comprimidinhos. Por isso tenho de me contentar com dois tylenois para tentar abafar essa maldita dor-de-cabeça que me aporrinha toda hora.

Acredito que a dor é por conta das poucas horas dormidas nos últimos dias, mais precisamente nos últimos meses. Nem faço idéia de desde quando estou com o sono acumulado por conta das madrugadas em claro. E o pior é que não passei essas noites em claro me divertindo em festas, orgias, bingos ou bailes de terceira idade. Simplesmente tem faltado tempo ou paciência para dormir.

Um enfado do mundo. Vontade de deixar tudo para depois. Lembro de um amigo que dizia "deixe para amanhã o que não precisa fazer hoje". E é simplesmente o que faço. Só que na maioria das vezes adio tanto meus afazeres que não sobra tempo pra fazer "amanhã" e acabo tendo de resolver minhas pendências de madrugadas, seja para um trabalho acadêmico, uma matéria que não tempo de terminar de escrever no trabalho ou até mesmo para uma partidinha de um jogo novo. Sem contar quando quero adiantar a leitura de algum dos dez livros que estou lendo simultaneamente.


E essas necessidades surgem com freqüência, por isso nem sempre posso contar com as oito horas habituais de sono: cinco, seis ou sete horas diárias em média. E é falta de esforço meu mesmo, não gosto de dormir. Me dá a sensação de estar mais vivo quando passo um tempo maior acordado, mesmo que seja fazendo coisas a maioria não considera "vida", como ler aquele gibi novo ou arrumar a estante de brinquedos do meu quarto. Sim, tenho 22 anos e um modo esquisito de curtir a vida.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Ódio do ócio. Não ter o que fazer no trabalho durante vários dias seguidos é muito mais trabalhoso que estar atolado de coisas. Checar e-mail de instante em instante (“livros com frete grátis, só por e-mail” nas Americanas.com, churrasqueira George Foreman Grill, Viagra etc), ver todos os sites de notícias nerds e visitar blogs.

Depois disto não sobra muito o que fazer na frente de um computador, exceto tentar parecer ocupado.Abro um aquivo de texto grande e começo a escrever essas bobagens, melhor do que ficar invejando as pessoas que têm o que fazer na redação. O editor revisando um texto, as pessoas apurando notícias no telefone, o jornalista encharcando a repórter bonitinha, o colunista me encharcando... todo mundo ocupado com algo. E eu fingindo escrever uma matéria que não existe.

Uma pausa para ir ao bebedouro. Afinal, beber água a todo instante me garante benefícios: ajuda a passar o tempo (enchendo e esvaziando o copo, enchendo e esvaziando a bexiga) e ainda faz bem pro meu rim esquerdo, que tem um cisto.

E já que não tenho nada pra fazer até quando estiver com vontade de urinar de novo, vou ver Chaves, que começou agora.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Não é difícil escutar alguém dizer chavões como “você é o que você come” ou “você é aquilo que você veste”. Ana Marias e Adrianes Galistel sempre dizem esse tipo de coisa nos seus programas de TV. Agora me pergunto se isso também vale para os filmes que gostamos de ver. Você é aquilo ao que você assiste?

São 1h30 da manhã. Insônia. Fumo aqui, tomo um chá, fumo aqui, tomo um chá... mas não relaxo o suficiente para dormir. Ok, esqueça o cigarro, não fumo. Só tomo o chá de pêssego mesmo, que também não adianta. Decido ver os dois últimos episódios da terceira temporada de A sete palmos. Só porque decido ver uma série dramática e mórbida de madrugada, não significa ser um cara baixo-astral ou que estou deprimido. É apenas uma forma de passar a madrugada. Só pra garantir mais diversão, decido ver O bebê de Rosemary logo após. Animação sem limites.

Uma conhecida me disse que deveria ver coisas mais animadas, sobretudo nas madrugadas sem sono. Porque, na opinião dela, isso deve contribuir para meu constante estado de espírito triste e pessimista. Embora eu mesmo não acho que sou alguém em “constante estado de espírito triste e pessimista”. Apenas não vou ficar empolgado sabendo que os pandas sumirão da Terra e tendo consciência de que o aquecimento global trará mais conseqüências do que o aumento do faturamento dos fabricantes de ventiladores. Não sou filiado ao Greenpeace, apenas foi o que veio na minha cabeça.

Poderia muito bem lamentar (e lamento) porque as pessoas gostam de Capim Cubano (“eles deveriam tirar o ‘bano’, diz o crítico musical José Teles”), Geraldinho Lins ou qualquer uma das criaturas que tocam, simplesmente, em todos os bares da cidade ao mesmo tempo.

(Por isso sou a favor de uma revolução (ou seria ditadura?) cultural. Se os bolchevistas fuzilaram o czar Nicolau II e sua família sem muitos prejuízos, aposto que as pessoas não dariam muita atenção ao desaparecimento de Armandinho ou Capital Inicial.)

Nestas condições, como alguém pode dizer que o que assisto me faz deprimido? O mundo lá fora é muito mais triste que em A sete palmos ou em O bebê de Rosemary.

Existe o carnaval, com Vassorinhas tocando a todo momento.

Os Beatles não existem mais.

O Enéas nunca mais deixou a barba crescer.

Paulo Coelho insiste em escrever novos livros.

O padre Marcelo tem uma coluna no jornal e eu não.

Percebem que a realidade é muito mais chocante? E ainda passa Páginas da Vida na Globo.

Conheço gente que passou a vida vendo essas novelas do Manoel Carlos (e as do Agnaldo Silva) - as coisas mais tristes e surreais da TV -, e que nem por isso adquiriu algum comportamento psicótico ou varizes na alma.

sexta-feira, janeiro 12, 2007

“Disque 900-1145... Tele-companhia é movimento... quer a sua companhia todo momento... Dique 900-1145...”. Esta era a trilha sonora da propaganda do Tele-companhia, um desses serviços para corações (e, numa análise mais profunda, neurônios também) solitários gastarem mais com seu telefone.

Muito antes do Mirc e seu “de onde vc tc”, esse serviço solitário devia fazer a alegria dos garotos espinhentos, meninas bigodudas e outros tipos excluídos da sociedade. É claro que a masturbação sempre foi o serviço solitário líder, mas acho que muita gente deve ter usado as mãos e dedos também para segurar o fone e discar o 900-1145.

Lembrei do Tele-companhia por conta de uma história que ouvi no trabalho. Uma empresária chamada Paloma, daqui de Recife, ligando pra um desses disque-e-espanta-solidão conheceu Matheus, dono de uma voz máscula e sensual que encantou a moça. Depois de muito tempo de conversa no telefone, vários bate-papos virtuais na internet e juras de amor, Matheus confessa que é apenas uma mulher de voz grossa, chamada Aline e viciada em maconha.

Ah, moça da testosterona também é música e responde pelo nome artístico de Aline do Cavaco. Sugestivo.

Antes de mais nada, uma pergunta: o que você faria se fosse a pura e solitária Paloma?

Aposto que dificilmente faria o que Paloma fez, dizer que continuaria amando Matheus/Aline. De qualquer forma, se você fosse Paloma - independende da resposta dada - com toda certeza seria uma pessoa pertubada, muito mesmo. Tanto quanto Aline/Matheus.

A relação foi aumentando, sempre via telefone e internet. Elas se conheceram, Paloma ajudou Aline a pagar dívidas com traficantes e deu um celular novo para a mulher de voz grossa. Até uma grande crise acontecer.

Paloma disse para Aline que estava namorando iria casar em breve. Com ciúmes, Aline afirmou que só iria aceitar o casamento se a empresária lhe pagasse R$ 500. Caso contrário, iria mandar dois homens para lhe estuprar e também contar para a família de Paloma que as duas mantinham um relacionamento amoroso-sexual-bizarro.

Paloma avisou ao Grupo de Operações Especiais (GOE), que prendeu a Aline do Cavaco em flagrante recebendo os R$ 500. "É mentira. Eu a amava", disse Aline ao Jornal do Commercio.

Por esta e outras coisas que escuto que ainda acho que vale a pena viver. Só de curiosidade.

*Pra ficar claro, nuca liguei para o Tele-companhia ou similares. Mirc eu usei, como todo bom nerd. Meu nick era F_Mulder e eu estava sempre no #Arquivo X_Brasil, da rede Brasnet.

terça-feira, janeiro 09, 2007

O bairro onde moro deveria ter um saloon. É difícil encontrar um lugar sem frescura, somente pra dar um trago. Estava procurando justamente um lugar deste pra tirar a poeira da garganta até que resolvo entrar num botequim perto da minha casa. Pra começar achei bastante insólito o local. Não parecia um lugar onde se poderia ouvir Franz Ferdinand, mas tocava Take me out quando entrei.

Achei estranho, mas relevei, bem melhor que ter de escutar Calcinha Preta, Cavaleiros do Forró, Capim Cubano, Calipso ou qualquer coisa cretina. E quando a música está terminando, me pergunto o que virá a seguir. A resposta vem de forma desagradável: “Foi num risca-faca que eu te conheci...”. Não sei se foi mais lamentável ou bizarro. Do rock ao risca-faca é um grande salto, convenhamos.

Aproveito a promoção do bar: pedindo um dos pratos sugeridos, grátis um drink. Peço uma batata frita e no mesmo instante pergunto qual a bebida que ganho. “Cerveja ou uísque”, responde o garçom.

“Certo, qual o uísque”, pergunto.

“Audi eninchet”, diz o garçom.

“O quê?”, indago enquanto penso que o garçom tem sérios problemas de dicção.

“Audience”, responde.

Faço cara de bunda, porque continuo sem entender nada. Que diabo de uísque será esse?

Solícito, o garçom vai até o balcão e traz o bendito uísque. Nem o provável alemão “Audi eninchet” ou o escocês “Audience” que ele me disse, mas sim o uísque-pobre Old Eight, o esquenta-tripa favorito do povão.

Como as fritas murchas e oleosas, tomo um gole da bebida (intragável) e fecho a conta. Rústico demais até mim. Na próxima vou num lugar onde tenha pelo menos Teacher’s.