domingo, novembro 07, 2010

Perdi pro netbook

Depois de tentar e tentar por terras nativas, encontrei há pouco alguém interessante que morava a pouco mais de 3 mil quilômetros de distância. Menina bonita, inteligente, divertida, letrada e, aparentemente, com poucos defeitos, exceto talvez o fato de gostar de filmes iranianos e outras coisas que considero por demais cult, mas nada ofensivo. Pois bem, decidi num feriado ir até lá, naquela expectativa Vanessa Rangel de e-aí-o-amor-pode-acontecer-de-novo-pra-você.

E o palpite foi certeiro. Ou, pelo menos, assim pareceu.
Foram quatro dias da mais melosa e bonitinha paixão, como há muito tempo não (me) via. De me fazer passar vários momentos acordado no meio da noite olhando bobo ela esfregando os pés enquanto dormia. De fazer aquela coisa abominável que é ficar falando fofo um com o outro. De chorar na hora de tchau por conta da perspectiva de só vê-la dali a alguns meses.

Voltei, nós falávamos todos os dias por telefone, pensamos na possibilidade dela vir morar comigo na metade do próximo ano, quando ela acabasse a faculdade. Cogitei seriamente também vender meu apartamento e coisas para tentar a vida com ela em São Paulo, que é um sonho dela. Não tenho vontade de sair do Recife, gosto daqui. Mas me sentia disposto a isso. Talvez eu também pudesse me renovar profissionalmente, sei lá. Achei que seria bom e que qualquer lugar com ela seria um bom lugar.

Os planos duraram algumas semanas. Em algum momento pareceu a ela que eu estava perdendo o interesse e ela me fez sentir a mesma coisa. Ela me dizia que eu precisava arrumar uma namorada por aqui, que pudesse me dar carinho e outras coisas que ela não poderia fazer a distância. “É uma pena, mas seria o melhor”, me dizia, dando a entender que ela realmente não queria tentar.

Mas a fala mais marcante foi “gosto de ti, mas não o suficiente para gastar dinheiro em passagens, prefiro comprar um netbook, por exemplo”. Foi o estopim para minha total desilusão, como Franz Ferdinand sendo assassinado em Saravejo e dando razão pra começarem a I Guerra Mundial.

Pois é, desistimos.

Mas que fosse, ao menos, um notebook.

domingo, agosto 08, 2010

Chuva, pijamas e baixo-astral

Minha mãe desistiu de sair para fazer compras por conta da chuva. Na verdade, está apenas chuviscando. E, de qualquer maneira, ela tem sombrinha e um carro, que podem ser bem úteis nessa empreitada. Ela tem até uns dois pares de botas de borracha engraçadas parecidas com as que crianças usavam em dias chuvosos para ir ao colégio; segundo ela me contou certa vez, é um acessório fashion, mas não levei muito a sério. Nada, portanto, impede minha mãe de ir até a loja comprar pijamas novos como ela havia planejado ontem.

Até acho positivo que minha mãe se sinta impedida de comprar mais pijamas. No último mês, ela comprou uns quatro e isso tem que parar mesmo. Mas me preocupa que, além dela, boa parte das pessoas deixe de seguir sua vida normalmente apenas por receio de se molhar um pouco. Não entendo.

Temos guarda-chuvas, capas, veículos e botinhas ridículas, podemos tudo, não há desculpa ficar em casa porque está chovendo. Talvez o fato de morar numa cidade em que faz sol e calor durante quase todo o ano tornou quase a população do Recife muito sensível a essa mudança de clima. Mas acho mesmo que a chuva é apenas uma justificativa fraca para a eterna preguiça de viver.

segunda-feira, junho 28, 2010

Fiquem

Não sei exatamente qual é o problema com minha cidade natal, o Recife, mas um número considerável de amigos quer deixá-la e uns tantos outros já a deixaram.

Significativa parcela deles deseja São Paulo, citando como atrativo mercado profissional maior, mais opções de lazer, menos violência, pessoas mais interessantes e o fato de ser uma cidade, de fato, grande.
Entendo, acho plausível e tudo mais. São Paulo é realmente bacana. Mas também é cinzenta demais. E me parece ter um ritmo acelerado demais e exigir um modus operandi de vida diferente, mais desgastante e menos caloroso.

Não acho minha cidade algo sensacional (bonito mesmo é o Rio de Janeiro), mas me sinto confortável nela, mesmo com todos os seus defeitos. Uso o mesmo pensamento de quando aceitamos as complicações e falhas de alguém para poder desfrutar de suas virtudes.

E, bem, o que me faz acima de tudo querer ficar no Recife são as amizades que tenho ao redor. Não me prendo ao lugar, mas às pessoas. Não me incomodaria de me mudar pra uma cidade ainda menor e mais jeca se eu puder levar todos os amigos queridos pra viver por perto. Tendo eletricidade, internet decente e boas condições de saneamento já tá ótimo pra mim.

sábado, junho 26, 2010

O tempo nunca dá tempo o bastante

Logo mais irei completar três anos de real inclusão no modelo mais típico de vida do nosso querido mundo capitalista. De segunda a sexta, tenho uma jornada de trabalho longa, almoço apressado e deslocamento para os empregos (trabalho em dois lugares). Gasto, habitualmente, mais de 12 horas do meu dia nesse processo.

Como compensação, recebo salário e assim posso comer e fazer todas as outras coisas necessárias para a sobrevivência, já que pra pagar as coisas é necessário dinheiro ou favores sexuais (embora, que eu me recorde, ninguém tenha me oferecido essa opção de pagamento, normalmente pedem em espécie ou no cartão).

Também sobram uns trocados para comprar coisas que me deixam feliz ou, ao menos, me fazem achar que estou feliz. Ontem mesmo comprei um moedor de pimenta no formato do R2-D2 e trouxe uma boa sensação.

Por outro lado, não me sobra muito tempo livre para viver propriamente. Esse imperfeito corpo exige descanso diário e leva umas sete ou oito horas do meu dia, porque custo muito a pegar no sono e normalmente acordo no meio da noite. No fim das contas, durmo umas seis horas por dia, mas sempre perco algum tempo no processo. Sempre me sinto cansado.

Acrescentem nessa rotina diária as coisas inevitáveis, como tomar banho, escovar dentes, se alimentar, tarefas domésticas etc.

Aí quando não tenho nenhuma obrigação e o tempo está totalmente à disposição, me ponho a pensar como aproveitá-lo. Quando finalmente decido o que fazer, já estou muito cansado e não há mais tempo.

quinta-feira, junho 17, 2010

Mamã, papá

Logo que me acomodo no avião e reparo no garotinho de uns dois anos de idade com a sua mãe nas poltronas ao lado, sinto aquele inevitável instinto de “ah, também quero isso pra mim um dia”. Ele é tão adorável brincando com seu boneco de pelúcia do Garibaldo do Vila Sésamo!

Três horas depois da decolagem, eu já não o acho tão legal assim e ele também me parece ter ritmo e estilo de vida incompatíveis com os meus. O que também me faz pensar o quão conflituosa seria nossa relação quando ele fosse um adulto e eu um idoso.

Quatro horas após, deixo de ter qualquer simpatia e o abomino com todas as minhas forças por sua inquietação sem limites e barulho que não é abafado nem por meu mp3 player tocando Ramones no volume máximo.

Na quinta hora, quando ele finalmente dorme e eu já desisti disso,me sinto cativado novamente.

Deve ser sempre conflituosa a relação. Mas, mesmo assim, acho que quero ser pai um dia.

domingo, maio 23, 2010

Darwin errou

Talvez a seleção natural e a seleção sexual funcionem bem na natureza, com moscas, tigres de bengala, cágados ou pavões, mas entre humanos, sinceramente, não acredito que isso exista ou funcione.
No ônibus, no metrô, na boate, no shopping, no centro da cidade, ou seja lá onde você for, notará espécimes que, sob a perspectiva darwiana, não deveriam continuar procriando e sendo o tipo predominante. Saia de casa e observe ao redor. Você sempre verá por aí aquela menina com roupas de tons cítricos justíssimas, a periguete de top e piercing no umbigo, o saradão de regata, o tiozinho assistindo novela no celular xingling, versões híbridas de tudo isso ou com características ainda piores.
Mesmo sendo esteticamente desinteressantes, intelectualmente pouco desenvolvidos ou ambos, é esse grupo que está se reproduzindo em maior número e se perpetuando como dominantes . E qual a vantagem biológica que eles representam?
Mesmo não tendo características interessantes sob os aspectos do fenótipo nem, muito provavelmente, sob o ponto de vista genético, eles se reproduzem mais e mais. Portanto, Darwin, na cidade as suas ideias não valem muito. Certamente não há uma evolução das espécies, mas uma involução.

domingo, abril 11, 2010

Ex

Da mesma forma que o religioso crê sem necessariamente ter se encontrado cara a cara com Jesus, acredito em um monte de coisa que nunca vi ou não pude, efetivamente, comprovar sua existência. Uma dessas coisas é amizade entre ex-namorados.
Das sete namoradas que tive (talvez uma delas não considere como namoro, mas não tenho outro nome praquele contato diario e a escova de dentes vermelha no meu banheiro), apenas uma continuou presente na minha vida de forma significativa.
O problema para o baixo índice de aproveitamento de pessoas após o fim do relacionamento deve ter a ver com a maneira como a maioria dos namoros terminam. Obviamente, não faria muito sentido eu querer ser amigo da guria que me corneou num show do Capital Inicial (sofrimento em dobro) ou daquela outra que tentou decepar meu pênis. Ok, essa última não existe, estou apenas usando um exemplo para defender o meu ponto de vista.
Terminamos relacionamentos porque não é mais viável ou agradável estar com aquela pessoa, motivos perfeitamente justificáveis para também para a inexistência de amizade.
Foi por não ser mais viável nem agradável que terminamos, eu e minha hoje amiga. Não sei como é que a amizade deu certo. Que nem aquela tia que fala de assombração: “não sei explicar, mas que existe, existe”. Amizade entre ex-namorados. Existe.

quarta-feira, março 31, 2010

Paul McCartney não vai atrás do trio elétrico

Quase sempre que pensei em alguém para estar do meu lado, imaginei uma pessoa de gostos semelhantes, aquele velho conceito de alma gêmea. Não sei se por amadurecimento ou pela dificuldade de encontrar uma mulher que goste de Beatles, Kafka, Hornby, quadrinhos e videogame, finalmente reparei que diferenças são importantes e saudáveis. Querer alguém muito parecido conosco é meio doentio, narcisista.
Mas essas diferenças, no fim das contas, complicam um bocado o relacionamento. Certos aspectos vão muito além de incompatibilidades de gosto.

Porque alguns dos nossos gostos não representam apenas preferências, mas sintetizam nossa personalidade. Por exemplo: o que me impossibilita de funcionar bem com uma guria fã do Chiclete com Banana não é incompatibilidade de gostos. Essas coisas conseguimos, com algum (muito) custo, superar. É incompatibilidade de estilo de vida.
Não é preconceito, mas sei perfeitamente que o ritmo e o estilo dessa pessoa não combinariam de forma alguma com os meus. Talvez pudéssemos nos dar bem e gostar sinceramente um do outro, mas, em algum momento, a sombra de Bel Marques ia acabar por destruir nossa relação. Seria um relacionamento datado, sem dúvida. Não daria certo.

É um tanto quanto determinista, mas real.

E o grande problema da gente é saber (e conseguir) dizer não pra pessoa antes que as coisas se compliquem. Porque o Paul McCartney nunca, mas nunca mesmo, vai querer ir atrás do trio elétrico no carnaval de Salvador. Mesmo que ele respeite (o que seria totalmente improvável) musicalmente o Bel Marques. Não dá, sabe?

Temos muito mais dificuldades pra lidar com diferenças do que imaginamos.