segunda-feira, junho 28, 2010

Fiquem

Não sei exatamente qual é o problema com minha cidade natal, o Recife, mas um número considerável de amigos quer deixá-la e uns tantos outros já a deixaram.

Significativa parcela deles deseja São Paulo, citando como atrativo mercado profissional maior, mais opções de lazer, menos violência, pessoas mais interessantes e o fato de ser uma cidade, de fato, grande.
Entendo, acho plausível e tudo mais. São Paulo é realmente bacana. Mas também é cinzenta demais. E me parece ter um ritmo acelerado demais e exigir um modus operandi de vida diferente, mais desgastante e menos caloroso.

Não acho minha cidade algo sensacional (bonito mesmo é o Rio de Janeiro), mas me sinto confortável nela, mesmo com todos os seus defeitos. Uso o mesmo pensamento de quando aceitamos as complicações e falhas de alguém para poder desfrutar de suas virtudes.

E, bem, o que me faz acima de tudo querer ficar no Recife são as amizades que tenho ao redor. Não me prendo ao lugar, mas às pessoas. Não me incomodaria de me mudar pra uma cidade ainda menor e mais jeca se eu puder levar todos os amigos queridos pra viver por perto. Tendo eletricidade, internet decente e boas condições de saneamento já tá ótimo pra mim.

sábado, junho 26, 2010

O tempo nunca dá tempo o bastante

Logo mais irei completar três anos de real inclusão no modelo mais típico de vida do nosso querido mundo capitalista. De segunda a sexta, tenho uma jornada de trabalho longa, almoço apressado e deslocamento para os empregos (trabalho em dois lugares). Gasto, habitualmente, mais de 12 horas do meu dia nesse processo.

Como compensação, recebo salário e assim posso comer e fazer todas as outras coisas necessárias para a sobrevivência, já que pra pagar as coisas é necessário dinheiro ou favores sexuais (embora, que eu me recorde, ninguém tenha me oferecido essa opção de pagamento, normalmente pedem em espécie ou no cartão).

Também sobram uns trocados para comprar coisas que me deixam feliz ou, ao menos, me fazem achar que estou feliz. Ontem mesmo comprei um moedor de pimenta no formato do R2-D2 e trouxe uma boa sensação.

Por outro lado, não me sobra muito tempo livre para viver propriamente. Esse imperfeito corpo exige descanso diário e leva umas sete ou oito horas do meu dia, porque custo muito a pegar no sono e normalmente acordo no meio da noite. No fim das contas, durmo umas seis horas por dia, mas sempre perco algum tempo no processo. Sempre me sinto cansado.

Acrescentem nessa rotina diária as coisas inevitáveis, como tomar banho, escovar dentes, se alimentar, tarefas domésticas etc.

Aí quando não tenho nenhuma obrigação e o tempo está totalmente à disposição, me ponho a pensar como aproveitá-lo. Quando finalmente decido o que fazer, já estou muito cansado e não há mais tempo.

quinta-feira, junho 17, 2010

Mamã, papá

Logo que me acomodo no avião e reparo no garotinho de uns dois anos de idade com a sua mãe nas poltronas ao lado, sinto aquele inevitável instinto de “ah, também quero isso pra mim um dia”. Ele é tão adorável brincando com seu boneco de pelúcia do Garibaldo do Vila Sésamo!

Três horas depois da decolagem, eu já não o acho tão legal assim e ele também me parece ter ritmo e estilo de vida incompatíveis com os meus. O que também me faz pensar o quão conflituosa seria nossa relação quando ele fosse um adulto e eu um idoso.

Quatro horas após, deixo de ter qualquer simpatia e o abomino com todas as minhas forças por sua inquietação sem limites e barulho que não é abafado nem por meu mp3 player tocando Ramones no volume máximo.

Na quinta hora, quando ele finalmente dorme e eu já desisti disso,me sinto cativado novamente.

Deve ser sempre conflituosa a relação. Mas, mesmo assim, acho que quero ser pai um dia.