segunda-feira, janeiro 29, 2007

O profeta Jeremias era um mutante: “Foi Deus quem fez de Jeremias uma cidade fortificada, uma coluna de ferro, e muralhas de cobre contra toda a terra", disse o padre durante uma missa que vi no domingo.

Pelo que entendi, Jeremias adquiriu uma espécie de invencibilidade e virou um Capitão América bíblico. Ou, no mínimo, ganhou corpo fechado. E ele ainda escreveu o livro das Lamentações, algo muito mais baixo-astral que qualquer queixa que eu escreva.

Mas, de acordo com o padre, muito mais importante que a coluna de ferro e os demais aparatos era a sinceridade de Jeremias. Segue um trecho do sermão:“Todos podem ser profetas. Profeta é quem fala a verdade, quem é sincero. O profeta é aquele que não massageia o ego do próximo. É preciso dizer a verdade. Pra que elogiar o colega de trabalho quando ele não é competente, só por amizade? Por que negar que sua esposa está gorda, quando é importante pra saúde dela que esta em forma?”

Seja profeta também e diga que este blogue é chato.

Seja profeta e diga pra sua mãe que ela é sem-noção.

Fale também pro seu vizinho lutador de jiu-jitsu que ele é um otário. E fique contando com a coluna de ferro.

terça-feira, janeiro 23, 2007

No último desfile do Fashion Rio, semana passada, Gisele Bündchen recebeu R$ 2 milhões para desfilar. Por 70 segundos. Fiz as contas para saber quantos segundos levaria para ganhar esse mesmo valor trabalhando seis horas por dia, recebendo R$ 450 por mês, que é meu atual salário.

Levaria cerca de 1.919.808.000 segundos. Ou mais ou menos 4,4 mil meses. Algo em torno de 370 anos. Nunca chegarei lá se continuar sendo estagiário. E olha que por R$ 2 milhões muita gente faria muito mais coisas que apenas desfilar.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

A vida parece um filme pornô. Tirando a parte do sexo, é tudo igual: um roteiro sem nexo e péssimos atores. Claro que no mundo real as pessoas também trepam, mas é diferente dos pornôs.

Existem motivos muito mais complexos do que os argumentos tradicionais dos filmes. Aposto que ninguém nunca convenceu a levar o outro pra cama dizendo “vamos, foder, vai ser divertido” ou qualquer um dos outro chavão do mundo pornográfico. E acredito também que os bombeiros e entregadores de pizza façam bem menos sexo do que nos vídeos pornôs. Mas nunca se sabe.

E sim, como nos pornôs a trilha sonora é uma bosta. Pelo menos é assim na cidade onde vivo. Basta conferir qualquer agenda “cultural” para provar que estou certo:

Terça-feira: Projeto Terça de primeira no Pagode da Wanda, no Bairro do Recife

Quarta-feira: Capim Cubano (sempre eles) em algum lugar da cidade.

Quinta-feira: Capim Cubano (mais uma vez) em outro lugar da cidade.

Sexta-feira: Capim Cubano (claro!), em alguma festa latina na cidade.

Sábado: Show de Chiclete com Banana na praia de Tamandaré.

Não poderia deixar de comentar mais uma semelhança com a realidade: o baixo orçamento. Assim como salário mínimo e bolsa de estagiário, a falta de grana é algo recorrente em produções como Manicures anais, Desejos molhados ou Duro como pedra. Aliás, este último é um filme gay de uma produtora nacional, chamada Pau Brasil. Criativo.

De todo jeito, na vida real ninguém implora pra ser fodido (yeah, man, fuck me like a bitch), exceto entre quatro paredes (se bem que a quantidade ou existência de paredes é algo muito relativo). Também, nem precisa pedir. Tem sempre alguém querendo lhe foder. Literalmente ou não.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Duas aspirinas são a entrada do meu café-da-manhã hoje. Aliás, seriam, se eu podesse tomá-las. Sou alérgico a ácido acetilsalicílico, presente nos famosos comprimidinhos. Por isso tenho de me contentar com dois tylenois para tentar abafar essa maldita dor-de-cabeça que me aporrinha toda hora.

Acredito que a dor é por conta das poucas horas dormidas nos últimos dias, mais precisamente nos últimos meses. Nem faço idéia de desde quando estou com o sono acumulado por conta das madrugadas em claro. E o pior é que não passei essas noites em claro me divertindo em festas, orgias, bingos ou bailes de terceira idade. Simplesmente tem faltado tempo ou paciência para dormir.

Um enfado do mundo. Vontade de deixar tudo para depois. Lembro de um amigo que dizia "deixe para amanhã o que não precisa fazer hoje". E é simplesmente o que faço. Só que na maioria das vezes adio tanto meus afazeres que não sobra tempo pra fazer "amanhã" e acabo tendo de resolver minhas pendências de madrugadas, seja para um trabalho acadêmico, uma matéria que não tempo de terminar de escrever no trabalho ou até mesmo para uma partidinha de um jogo novo. Sem contar quando quero adiantar a leitura de algum dos dez livros que estou lendo simultaneamente.


E essas necessidades surgem com freqüência, por isso nem sempre posso contar com as oito horas habituais de sono: cinco, seis ou sete horas diárias em média. E é falta de esforço meu mesmo, não gosto de dormir. Me dá a sensação de estar mais vivo quando passo um tempo maior acordado, mesmo que seja fazendo coisas a maioria não considera "vida", como ler aquele gibi novo ou arrumar a estante de brinquedos do meu quarto. Sim, tenho 22 anos e um modo esquisito de curtir a vida.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Ódio do ócio. Não ter o que fazer no trabalho durante vários dias seguidos é muito mais trabalhoso que estar atolado de coisas. Checar e-mail de instante em instante (“livros com frete grátis, só por e-mail” nas Americanas.com, churrasqueira George Foreman Grill, Viagra etc), ver todos os sites de notícias nerds e visitar blogs.

Depois disto não sobra muito o que fazer na frente de um computador, exceto tentar parecer ocupado.Abro um aquivo de texto grande e começo a escrever essas bobagens, melhor do que ficar invejando as pessoas que têm o que fazer na redação. O editor revisando um texto, as pessoas apurando notícias no telefone, o jornalista encharcando a repórter bonitinha, o colunista me encharcando... todo mundo ocupado com algo. E eu fingindo escrever uma matéria que não existe.

Uma pausa para ir ao bebedouro. Afinal, beber água a todo instante me garante benefícios: ajuda a passar o tempo (enchendo e esvaziando o copo, enchendo e esvaziando a bexiga) e ainda faz bem pro meu rim esquerdo, que tem um cisto.

E já que não tenho nada pra fazer até quando estiver com vontade de urinar de novo, vou ver Chaves, que começou agora.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Não é difícil escutar alguém dizer chavões como “você é o que você come” ou “você é aquilo que você veste”. Ana Marias e Adrianes Galistel sempre dizem esse tipo de coisa nos seus programas de TV. Agora me pergunto se isso também vale para os filmes que gostamos de ver. Você é aquilo ao que você assiste?

São 1h30 da manhã. Insônia. Fumo aqui, tomo um chá, fumo aqui, tomo um chá... mas não relaxo o suficiente para dormir. Ok, esqueça o cigarro, não fumo. Só tomo o chá de pêssego mesmo, que também não adianta. Decido ver os dois últimos episódios da terceira temporada de A sete palmos. Só porque decido ver uma série dramática e mórbida de madrugada, não significa ser um cara baixo-astral ou que estou deprimido. É apenas uma forma de passar a madrugada. Só pra garantir mais diversão, decido ver O bebê de Rosemary logo após. Animação sem limites.

Uma conhecida me disse que deveria ver coisas mais animadas, sobretudo nas madrugadas sem sono. Porque, na opinião dela, isso deve contribuir para meu constante estado de espírito triste e pessimista. Embora eu mesmo não acho que sou alguém em “constante estado de espírito triste e pessimista”. Apenas não vou ficar empolgado sabendo que os pandas sumirão da Terra e tendo consciência de que o aquecimento global trará mais conseqüências do que o aumento do faturamento dos fabricantes de ventiladores. Não sou filiado ao Greenpeace, apenas foi o que veio na minha cabeça.

Poderia muito bem lamentar (e lamento) porque as pessoas gostam de Capim Cubano (“eles deveriam tirar o ‘bano’, diz o crítico musical José Teles”), Geraldinho Lins ou qualquer uma das criaturas que tocam, simplesmente, em todos os bares da cidade ao mesmo tempo.

(Por isso sou a favor de uma revolução (ou seria ditadura?) cultural. Se os bolchevistas fuzilaram o czar Nicolau II e sua família sem muitos prejuízos, aposto que as pessoas não dariam muita atenção ao desaparecimento de Armandinho ou Capital Inicial.)

Nestas condições, como alguém pode dizer que o que assisto me faz deprimido? O mundo lá fora é muito mais triste que em A sete palmos ou em O bebê de Rosemary.

Existe o carnaval, com Vassorinhas tocando a todo momento.

Os Beatles não existem mais.

O Enéas nunca mais deixou a barba crescer.

Paulo Coelho insiste em escrever novos livros.

O padre Marcelo tem uma coluna no jornal e eu não.

Percebem que a realidade é muito mais chocante? E ainda passa Páginas da Vida na Globo.

Conheço gente que passou a vida vendo essas novelas do Manoel Carlos (e as do Agnaldo Silva) - as coisas mais tristes e surreais da TV -, e que nem por isso adquiriu algum comportamento psicótico ou varizes na alma.

sexta-feira, janeiro 12, 2007

“Disque 900-1145... Tele-companhia é movimento... quer a sua companhia todo momento... Dique 900-1145...”. Esta era a trilha sonora da propaganda do Tele-companhia, um desses serviços para corações (e, numa análise mais profunda, neurônios também) solitários gastarem mais com seu telefone.

Muito antes do Mirc e seu “de onde vc tc”, esse serviço solitário devia fazer a alegria dos garotos espinhentos, meninas bigodudas e outros tipos excluídos da sociedade. É claro que a masturbação sempre foi o serviço solitário líder, mas acho que muita gente deve ter usado as mãos e dedos também para segurar o fone e discar o 900-1145.

Lembrei do Tele-companhia por conta de uma história que ouvi no trabalho. Uma empresária chamada Paloma, daqui de Recife, ligando pra um desses disque-e-espanta-solidão conheceu Matheus, dono de uma voz máscula e sensual que encantou a moça. Depois de muito tempo de conversa no telefone, vários bate-papos virtuais na internet e juras de amor, Matheus confessa que é apenas uma mulher de voz grossa, chamada Aline e viciada em maconha.

Ah, moça da testosterona também é música e responde pelo nome artístico de Aline do Cavaco. Sugestivo.

Antes de mais nada, uma pergunta: o que você faria se fosse a pura e solitária Paloma?

Aposto que dificilmente faria o que Paloma fez, dizer que continuaria amando Matheus/Aline. De qualquer forma, se você fosse Paloma - independende da resposta dada - com toda certeza seria uma pessoa pertubada, muito mesmo. Tanto quanto Aline/Matheus.

A relação foi aumentando, sempre via telefone e internet. Elas se conheceram, Paloma ajudou Aline a pagar dívidas com traficantes e deu um celular novo para a mulher de voz grossa. Até uma grande crise acontecer.

Paloma disse para Aline que estava namorando iria casar em breve. Com ciúmes, Aline afirmou que só iria aceitar o casamento se a empresária lhe pagasse R$ 500. Caso contrário, iria mandar dois homens para lhe estuprar e também contar para a família de Paloma que as duas mantinham um relacionamento amoroso-sexual-bizarro.

Paloma avisou ao Grupo de Operações Especiais (GOE), que prendeu a Aline do Cavaco em flagrante recebendo os R$ 500. "É mentira. Eu a amava", disse Aline ao Jornal do Commercio.

Por esta e outras coisas que escuto que ainda acho que vale a pena viver. Só de curiosidade.

*Pra ficar claro, nuca liguei para o Tele-companhia ou similares. Mirc eu usei, como todo bom nerd. Meu nick era F_Mulder e eu estava sempre no #Arquivo X_Brasil, da rede Brasnet.

terça-feira, janeiro 09, 2007

O bairro onde moro deveria ter um saloon. É difícil encontrar um lugar sem frescura, somente pra dar um trago. Estava procurando justamente um lugar deste pra tirar a poeira da garganta até que resolvo entrar num botequim perto da minha casa. Pra começar achei bastante insólito o local. Não parecia um lugar onde se poderia ouvir Franz Ferdinand, mas tocava Take me out quando entrei.

Achei estranho, mas relevei, bem melhor que ter de escutar Calcinha Preta, Cavaleiros do Forró, Capim Cubano, Calipso ou qualquer coisa cretina. E quando a música está terminando, me pergunto o que virá a seguir. A resposta vem de forma desagradável: “Foi num risca-faca que eu te conheci...”. Não sei se foi mais lamentável ou bizarro. Do rock ao risca-faca é um grande salto, convenhamos.

Aproveito a promoção do bar: pedindo um dos pratos sugeridos, grátis um drink. Peço uma batata frita e no mesmo instante pergunto qual a bebida que ganho. “Cerveja ou uísque”, responde o garçom.

“Certo, qual o uísque”, pergunto.

“Audi eninchet”, diz o garçom.

“O quê?”, indago enquanto penso que o garçom tem sérios problemas de dicção.

“Audience”, responde.

Faço cara de bunda, porque continuo sem entender nada. Que diabo de uísque será esse?

Solícito, o garçom vai até o balcão e traz o bendito uísque. Nem o provável alemão “Audi eninchet” ou o escocês “Audience” que ele me disse, mas sim o uísque-pobre Old Eight, o esquenta-tripa favorito do povão.

Como as fritas murchas e oleosas, tomo um gole da bebida (intragável) e fecho a conta. Rústico demais até mim. Na próxima vou num lugar onde tenha pelo menos Teacher’s.