quinta-feira, janeiro 31, 2008

Seu Abílio

Seu Abílio era um homem desses que não se vê mais hoje em dia, um tipo tão raro nos anos 2000 quanto seu nome. Morreu não sei nem mais quanto tempo faz; mais de dez anos, menos de 15, creio. Eu era bem novo quando isso aconteceu e esqueci da data de sua partida, mais por não querer lembrar disso do que por displicência infantil.

O que lembro e sei é que gostava muito dele. Já o conheci velho, claro, como há de ser com todo avô. Era magro e alto, já ficando encurvado pela idade. Tinha cabelos brancos bem finos, que usava de lado. Usava uma capa preta e fumava bastante. Inesquecível aquela figura alta de sobretudo preto com o cigarro acesso naquela escuridão de cidade do interior.

Era barbeiro, mas sua barba parecia sempre estar por fazer. O beijo do avô sempre me arranhava a face, coisa que eu não gostava muito. Mas eu logo esquecia daquele ardor chato no rosto quando ele me contava uma piada. Tinha sempre uma na ponta da língua, coisa incrível, nunca se repetia.

Aliás, Abílio morreu contando uma piada que agora me esqueci. Era uma daquelas clássicas sobre a chegada de alguém no céu. E me deu uma saudade dele agora de noite, enquanto brinco com sua antiga bengala.

5 comentários:

Renatinha disse...

E parece q avô tem um cheiro que dura pra sempre, né? Seu Ernani, o meu, tinha cheiro de sabonete Phebo Odor de Rosas e de talco Povilho. =). =*

Anônimo disse...

Tô tão nostálgica ultimamente que comecei a chorar com seu post.
Lindo.

M. disse...

Um dos meus avôs faleceu quando eu tinha uns seis meses. Sempre tive muita vontade de tê-lo conhecido pelas histórias que ouço dele. Mas a vida quis assim...

Meu outro avô ainda é vivo, tem 94 anos e Alzheimer, que você mencionou no post abaixo...

beijos!

Greta Manilla disse...

Infelizmente não tive infância com meus avôs, todos morreram antes de miha chegada. Acho até que é por isso que não posso ver um velhinho na rua ou na TV que fico doida. A-D-O-R-O escutar histórias deles.
Mas sobre saudade de alguém que não devia ter ido, entendo muito.
Morro de saudade do meu pai. penso nele sempre que tô sozinha e lembro dele a todo instante quando não tô.

marcos disse...

A pessoa mais próxima de mim que faleceu foi meu irmão no ano passado. Já não conheci nenhum dos meus avôs. Estou para escrever um post a respeito, sobre uma fenda que se abre no meu peito de repente, e sai muita dor por ela e se fecha assim como se abriu e depois a vida continua. Acho que é saudade também. Forte abraço.