Pelo menos uma vez por semana encontro a vizinha do andar de baixo no térreo do prédio. “Nunca mais lhe vi”, me diz a senhorinha, sempre, mesmo que tenha me visto no dia anterior. Ela tem Alzheimer.
Às vezes ela pergunta do trabalho no jornal (que não tenho mais) e de algumas outras coisas as quais também não mais tenho. Uma vez expliquei superficialmente que o tudo sobre o qual ela perguntava tinha virado nada. Tempos difíceis.
Mas não adianta, ela não lembra das minhas observações e volta a me perguntar. E a dizer que nunca mais me viu. Entro no clima e digo “é verdade, tenho trabalhado muito, por isso quase não nos vemos” ou “sim, está tudo bem”.
Causava certo desconforto esses diálogos. Mas pensando bem agora, ela tem memória das melhores coisas que eu vivia até há pouco. Qual a razão de tentar explicar o hoje que anda tão insosso?Era bom. Melhor deixar ela com essas lembranças sobre mim, muito mais interessantes.
8 comentários:
É, às vezes ela também me vem com papos desatualizados.
mas às vezes é bom sentar naquele sofazinho e esperar que ela acabe de rezar o terço da misericórdia... Oo
Rá, esquisito ter contato no meio virtual com quem mora na porta do lado =P
Olha, por trás de um rotina do andar térreo de algum prédio do NE acontece algo muito bonito e triste, que me deixou comovida. As maiores histórias estão mesmo nos detalhes.
Certa ela. A gente devia esquecer o quão idiotas somos e lembrar só do q interessa no momento!
É, né?
Esquisito mesmo.
Talvez eu recorra a isso por não sermos sociáveis o bastante pra interagir um pouco mais no meio da escada.
Concordo contigo, Clara, a gente esbarra nessas coisinhas e nem percebe. Tem que ficar de olho nos detalhes. E, Renatinha, bem sabes que eu sou idiota, mas uma hora me acerto =P.
Todos nós acertaremos =D
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