sexta-feira, novembro 30, 2007

Corrente.

Agora eu não me sinto mais um excluído da blogosfera. André, do Cataclisma14, me incluiu numa corrente de blogues e pediu para eu citar cinco coisas que eu sei fazer e todo mundo também sabe. Vou quebrar a corrente porque acho que passaria vexame por não ser muito entrosado com a tuma dos blogues.

Ah, já sei. Vou convidar José Dirceu, Marcelo Tas, Bruna Surfistinha, Neil Gaiman e Fernando Meirelles para darem seus pitacos. Se passarem por aqui, estão intimados.

Cinco coisas que eu sei fazer e todo mundo também sabe:

1 – Ser roubado – É difícil passar ileso. Uma hora, alguém vai te assaltar Eu mesmo já fui assaltado mais de dez vezes, sendo que em determinado ano foram seis ocorrências. Já levaram de tudo: celular, carteira, mochila, camisa e boné (num tempo imemoriável quando se usavam bonés de times de basquete americano). Certa vez um ladrão teve a maldade de levar meu lanche que consistia num Toddynho e um pacote de Rufles. Pura maldade.

2 – Ser tapeado por vendedores – Variação da primeira habilidade, mas não envolve violência física, apenas a lábia. Vendedores são seus inimigos, por mais que eles tentem ser simpáticos. Fazem promoções do tipo “um é R$ 2 e dois é R$ 4” e você acaba pensando que fez bom negócio. E não, aquela camisa não ficou uma maravilha em você.

3 – Ovos mexidos – Qualquer um, de dementes a portadores de Mal de Parkinson, sabe fazer ovos mexidos, esta grande maravilha da gastronomia. Sem este insubstituível talento, as férias em casas de praia seriam muito mais complicadas. Ovo mexido pra comer com pão no café da manhã, pra dar sustância ao Miojo no almoço e novamente pra colocar no pão durante o jantar (isso se ainda houver pão).

4 – Insultar – É verdade que as formas mais simples de ofensa são acessíveis a todos, mas para realizar esta atividade de forma competente é necessária uma boa dose de criatividade e sofisticação. Quem é chamado um dia de filho da puta esquece logo. Mas experimente xingar o mesmo de filho de genitora promíscua. Ele dificilmente esquecerá e, quem sabe, até terá orgulho.

5 - Lamentar-se – “Eu não deveria ter gastando tanto com uma samba-canção de seda” ou “nunca que eu deveria ter dado para ele” são pensamentos que, respectivamente (ou não) assolam homens e mulheres. A impossibilidade de corrigir feitos pouco louváveis resulta sempre em lamúria. Não há como escapar. Até hoje eu me lamento por coisas feitas muitos anos atrás, como ter ido ver Casamento Grego no cinema, definitivamente, o pior filme da história da humanidade.

quinta-feira, novembro 22, 2007

Boca em obras

Certos procedimentos odontológicos deveriam ser feitos com anestesia geral. Não tanto pela dor, mas pelo incômodo que causam. Fui ao dentista para tratar uma cárie num dente lá do fundão da boca. Após duas injeções de anestesia local, nem sente direito a moça cutucando as coisas. Ela poderia rasgar minha bochecha que eu só sentiria depois que o sangue escorresse até o meu pescoço.

É, a anestesia funciona. Mas que coisa desagradável é aquela furadeira de dentista. Faz um barulho repetitivo, parece uma reforma acontecendo dentro da boca. E reforma é sempre uma coisa chata: faz sujeira e atrapalha o funcionamento das coisas. Claro que dentistas costumam ser mais delicados e rápidos que pedreiros, mas ainda assim causam transtornos. E, o pior, dentro de você.

Com o passar dos minutos se sente cada vez mais o inchaço na metade do rosto onde o dente está localizado. Me sinto como um baiacu inflado parcialmente. Não é bonito.

Adoraria que me dessem uma anestesia geral. Dormir sem me incomodar com o barulho, os dedos passeando pela minha boca ou com meia face inchada. Porque nada pior do que sair do dentista falando com a língua mole e jeitinho de quem acabou de ter um derrame e perdeu metade dos movimentos faciais.

segunda-feira, novembro 19, 2007

Risadinha é que era mulher de verdade

“Namora comigo?” (e suas inúmeras variações) é um dos pedidos mais estranhos que alguém pode ouvir. É razoável perguntar “posso te ver amanhã?” e coisas do tipo. E depois de vários amanhãs, creio que as pessoas estão namorando. Pessoas saudáveis, acredito, se juntam, simplesmente, sem formalidade.

Algo está fora dos eixos num relacionamento quando um pedido de namoro é dito ou tem de ser feito. Sobretudo quando em menos de três semanas se recebe dois pedidos de namoro de pessoas distintas. Algo REALMENTE está muito errado. E não tem nada a ver com feromônios.

Da última vez que alguém havia me pedido em namoro eu estava no terceiro ano do colégio. Esqueci o nome dela, mas eu a apelidei secretamente de Risadinha. Ela era mórmon e andava sempre com um sorriso entre o demente e histérico, uma feição que cairia bem tanto num assassino sádico quanto num drogado cheio de ácido.

Pois uma tarde Risadinha me abordou e se apresentou pra mim. Era assustador. Por vários dias seguidos ela ficou do lado de fora da sala de aula esperando que eu saísse para o recreio. Sem escapatória, ouvia histórias de aparições de Jesus e comentários simpáticos sobre mim. E ela dizendo isso com o olhar fixo e seu sorriso retardado.Uma maneira bem bizarra de flertar.

Até que, após 15 dias de conversas que eram quase monólogos dela, Risadinha me pediu em namoro. Deus, eu teria ficado menos assustado se a Virgem Maria aparecesse na coxinha que eu estava comendo na hora. Gaguejei algumas palavras fugi junto com o som do sinal que anunciava do fim do recreio.

Depois Risadinha nunca mais falou comigo. Mas fez o mesmo tipo de abordagem com um conhecido meu, que também não topou o relacionamento.

Hoje, as Risadinhas são outras. Mulheres mais velhas, supostamente maduras e sãs. Mas, no fim das contas, não mudam muito o resultado final. Continua tudo pouquíssimo sofisticado. Só é mais difícil reconhecer o estado de perturbação mental, porque elas não têm trejeitos de maníacos e sabem esconder bem suas neuroses. Risadinha, que saudade. Você era mais sincera e descomplicada.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Síndrome de Regina Duarte

Não sei por que a humanidade tem tanto medo de tudo. Medo de morrer, de se apaixonar ou de ficar só são alguns dos temores mais típicos. Gente excêntrica pode tornar as coisas um tanto sofisticadas, como a Regina Duarte que tinha (talvez ainda tenha) medo do Lula. Particularmente, considero a Malu Mulher mais medonha que o barbudo, mas vá lá. Afinal, o inconsciente humano é inconsciente mesmo.

Na sociedade cristã ocidental (pareço sofisticado falando assim, não?), essa insegurança já começa na infância, quando se deixa de aproveitar certas brincadeiras por medo de que o Papai do Céu castigue. Coisa infundada, porque não me lembro de nenhum amigo mais travesso que tenha sofrido com alguma praga de gafanhotos ou a morte do primogênito. Este último seria ainda mais remoto, principalmente porque o sexo entre crianças era coisa bem pouco em voga na minha geração. Hoje, qualquer criança de oito anos provavelmente tem uma vida sexual mais ativa e animada que a minha.

Já no Oriente Médio, Alá e Deus até aprovam as brincadeiras mais pesadas, possibilitando às crianças judias e israelenses uma infância mais saudável. O coleguinha judeu roubou suas figurinhas no jogo do bafo? Massacre o vilarejo dele e ainda sonhe com a promessa de 72 virgens no céu! Essas crianças, sim, viram adultos sem medo quando conseguem ultrapassar a puberdade intactos a todos os atentados à sua vida.

Agora, na lira dos 20 anos, uma das coisas que mais ouço é “tenho medo”. Dói nos nervos essa geração de frouxos com medo de sentir qualquer coisa que seja simplesmente sentir. Um amigo pensa em terminar um namoro com medo de gostar de verdade de seu namorado. Outra me diz que não quer começar um relacionamento pelo mesmo pavor: gostar, amar, sei lá.

Medo de gostar? Me explica. Acho perfeitamente razoável que se tenha medo de coisas como uma punção lombar, músicas da Björk, Receita Federal ou filmes eróticos com pessoas besuntadas. Mas se preocupar em não se apegar a alguém pelo temor de que essa pessoa um dia pode sumir da sua vida é estranho e antinatural. Tudo tem um ponto final. Pra que temer?

Dizem que isso é ser racional. Parece-me estúpido, isso sim.

quarta-feira, novembro 07, 2007

Lacuna

Vivo, por ora, um estado de não plenitude das coisas. Não é insatisfação com o que me é disponível, mas um estranhamento pela ausência de quem já foi tão presente em minha vida.

Os últimos cinco anos foram os que mais surgiram e sumiram pessoas da minha vida: amor e amizades, ambos na forma mais intensa e apaixonada. E quase todos desapareceram.

Vez ou outra nos esbarramos e é sempre o mesmo: olhares estranhos, desvio de caminhos ou indiferença, simplesmente. A reação mais eloqüente que obtemos desse encontro é talvez um sorriso com câimbra.

Às vezes, de uma tentativa sincera de reaproximação acontece um abraço, mas os braços parecem não mais saber se enlaçar. Desconfortável. E triste.

Parece que as pessoas morrem não da forma literal, mas de maneira metafórica, coisa muito mais desagradável. Acostumar com a idéia de que elas não estão mais ali nem em qualquer lugar é bem ruim. Sobretudo porque não é possível acostumar-se.