sexta-feira, março 15, 2013

O mistério da fé

Sendo ateu e tendo poucos amigos que casam no religioso, pisar no solo sagrado de uma igreja é coisa bem rara. Por motivos que não vêm ao caso, acabei assistindo a minha primeira missa em muitos anos.

A cerimônia começa como espécie de programa de auditório; uma senhora de saia azul celeste (tonalidade bastante adequada para o local) e óculos de aro grosso faz um breve cântico ininteligível e anuncia o nome do padre, o que causa em mim uma moderada vontade de bater palmas.

O padre é um tipo que faz você esquecer tudo que já foi dito sobre renovação carismática da igreja católica. Sua inexpressividade facial e fala modorrenta, aliada ao sotaque terrível de origem indefinida e má dicção, tornam a missa bastante entediante e, na maior parte, incompreensível.

A única coisa aparentemente eloquente era a mão esquerda dele, que tremia o tempo todo, indicando Parkinson ou apenas emoção (este segundo parece improvável já que a vida parecia há muito ter saído daquele corpo). O padre também usava um tênis esportivo preto, aparentemente para corridas, embora não parecesse do tipo que se exercita, e um relógio digital com pulseira de borracha. Não sei porque cito isso, mas pareceram acessórios estranhos, embora reconheça que seriam estranhos em qualquer humano com senso de estética.

 “Cólera”, “extermínio”, “bezerro de metal fundido” e “Israel” foram algumas das parcas expressões ditas pelo padre que conseguir assimilar. Por sorte, continua em voga nas igrejas aquela rotina de sentar e levantar algumas vezes durante a missa, o que acaba virando uma espécie de jogo de adivinha sobre quando será a próxima vez de se movimentar. Em tempo: me levantei quatro vezes ao longo de cerca de 40 minutos. 

A missa termina com a distribuição das hóstias (quase certeza que há um termo pra isso), entregues ao padre pela senhorinha mestre de cerimônias, que atua nos outros momentos como assistente de palco ou roadie sagrada. As bolachinhas ficam guardadas numa espécie de baleiro guardado armazenado numa portinhola dourada atrás do altar, uma dispensa sagrada onde se armazenam também água benta e vinho, pelo que vi.

Penso se há alguma forma respeitosa de ir para a fila da hóstia, apenas para relembrar o sabor dela, mas desisti diante da possibilidade de ter algum ingrediente de origem animal na receita.

Encerrado o momento das hóstias, o padre se retira e várias senhorinhas se põem a cantar. Fico feliz por não ter colocado dinheiro no cestinho da paróquia.

2 comentários:

Sara disse...

Eu acho que às vezes essas coisas são misteriosas, mas espero que também criado por seus desejos de fazer as coisas, espero que este ano o meu desejo se realiza e pode tirar minhas férias, eu acho que vai procurar Os melhores hotéis em Recife estão no Decolar.com

Thiago & Syllas disse...

kkkk falou corretissimo!