domingo, junho 02, 2013

Não quero que enfiem uma sonda no meu pau



“É cálculo renal”, disse a médica da emergência, trazendo na mão a tomografia que fiz logo após tomar uma dose forte de analgésicos para aliviar a dor que eu sentia em algum lugar próximo ao meu rim esquerdo. “E a pedrinha está a sete centímetros da sua bexiga”, completou ela, embora isso não me diga muita coisa. Não faço ideia do que esses centímetros representam para uma bolota de seis milímetros passeando pelo meu ureter. 
Considerando que já se passaram cerca de 24 horas e nada mudou, sou levado a crer que essa pedra se desloca mais lentamente do que uma senhorinha de 97 anos caminhando sem pressa.
Sempre tive medo de cálculo renal, pelas histórias que contam e aquele papo de que a dor é semelhando à do parto, embora eu ainda desconfie que uma criança saindo pela vagina de alguém seja algo mais agressivo do que uma pedrinha de milímetros saindo pelo meu pau. Jamais saberei. Se já me parece improvável que eu vá engravidar uma mulher, é mais remota ainda a possibilidade de eu engravidar (e espero sinceramente que não aconteça).
Segundo o urologista que me atendeu hoje de amanhã, tenho duas opções: me operar logo ou esperar mais um tempo para ver se a pedra sai de maneira não tão sofrível. Optei por aguardar mais uns dias e lidar com a dor, porque qualquer coisa que não seja uma sonda entrando pela minha uretra me parece bem mais razoável.
Aliás, esqueci de perguntar pro urologista: a anestesia é local? 

sexta-feira, março 15, 2013

O mistério da fé

Sendo ateu e tendo poucos amigos que casam no religioso, pisar no solo sagrado de uma igreja é coisa bem rara. Por motivos que não vêm ao caso, acabei assistindo a minha primeira missa em muitos anos.

A cerimônia começa como espécie de programa de auditório; uma senhora de saia azul celeste (tonalidade bastante adequada para o local) e óculos de aro grosso faz um breve cântico ininteligível e anuncia o nome do padre, o que causa em mim uma moderada vontade de bater palmas.

O padre é um tipo que faz você esquecer tudo que já foi dito sobre renovação carismática da igreja católica. Sua inexpressividade facial e fala modorrenta, aliada ao sotaque terrível de origem indefinida e má dicção, tornam a missa bastante entediante e, na maior parte, incompreensível.

A única coisa aparentemente eloquente era a mão esquerda dele, que tremia o tempo todo, indicando Parkinson ou apenas emoção (este segundo parece improvável já que a vida parecia há muito ter saído daquele corpo). O padre também usava um tênis esportivo preto, aparentemente para corridas, embora não parecesse do tipo que se exercita, e um relógio digital com pulseira de borracha. Não sei porque cito isso, mas pareceram acessórios estranhos, embora reconheça que seriam estranhos em qualquer humano com senso de estética.

 “Cólera”, “extermínio”, “bezerro de metal fundido” e “Israel” foram algumas das parcas expressões ditas pelo padre que conseguir assimilar. Por sorte, continua em voga nas igrejas aquela rotina de sentar e levantar algumas vezes durante a missa, o que acaba virando uma espécie de jogo de adivinha sobre quando será a próxima vez de se movimentar. Em tempo: me levantei quatro vezes ao longo de cerca de 40 minutos. 

A missa termina com a distribuição das hóstias (quase certeza que há um termo pra isso), entregues ao padre pela senhorinha mestre de cerimônias, que atua nos outros momentos como assistente de palco ou roadie sagrada. As bolachinhas ficam guardadas numa espécie de baleiro guardado armazenado numa portinhola dourada atrás do altar, uma dispensa sagrada onde se armazenam também água benta e vinho, pelo que vi.

Penso se há alguma forma respeitosa de ir para a fila da hóstia, apenas para relembrar o sabor dela, mas desisti diante da possibilidade de ter algum ingrediente de origem animal na receita.

Encerrado o momento das hóstias, o padre se retira e várias senhorinhas se põem a cantar. Fico feliz por não ter colocado dinheiro no cestinho da paróquia.

sexta-feira, março 08, 2013

Esse cara (transpirando no ônibus) sou eu


Me sinto uma senhora gorda no ápice da menopausa sempre que pego ônibus para ir pro trabalho. Um surto de calor acompanhado de irritação e desejo suicida invade o meu corpo logo após passar da catraca, fazendo do pequeno trajeto uma experiência suarenta de quase morte.

Sei que tem gente que passa horas em ônibus e à primeira vista pareço privilegiado por gastar no máximo uns vinte minutos de viagem, mas minha dor também tem razão de ser. Afinal, mesmo que por um tempo menor, encaro aperto, calor, sovacos horrendos expostos de maneira quase pornográfica, vômito de criança e evangélicos vendedores de canetas que agradecem a Jesus pela glória alcançada (abandono das drogas, geralmente crack) etc.

Música desagradável também é uma constante nas viagens. Alguns ônibus contam com sistema de som, muitas vezes sintonizados em rádios evangélicas (novamente eles), cujos cânticos de louvor e pregação reforçando o aspecto de penitência que é estar naquele lugar horrível. Igualmente incômodos são os passageiros que usam os alto-falantes dos celulares no máximo, geralmente tocando funk ou algum gênero inclassificável com temática sexual, sobretudo sobre “novinhas” (sendo justo, há também canções a respeito de pessoas que supostamente atingiram a maioridade) e bregas sobre questões semelhantes. Menção honrosa para os músicos amadores dos coletivos, cujo repertório é geralmente uma versão triste dos piores momentos da programação Nova Brasil FM.

Hoje o sistema de som do ônibus estava sintonizado numa rádio comum e tocava Esse Cara Sou Eu. Uma senhora do meu lado comentou que “esse cara assim não existe” e perguntou se eu concordava com afirmativa dela. Eu não soube responder, mas acho que ela esperava que eu respondesse que esse cara sou eu. 

terça-feira, março 05, 2013

A ameaça nuclear de uma mulher


Não sei o que dizer para uma mulher com quem eu desejo ter relação carnal casual sem fins reprodutivos ou tenho interesse amoroso, seja desconhecida, recém-conhecida ou alguém que já estou de olho há tempos. Já perto de completar três décadas de vida, continuo tão hábil quanto era na época que comprei minha primeira revista Playboy (Maitê Proença, agosto de 1996, saudades).

Encaro a abordagem a uma mulher como algo muito sério, difícil e delicado, como as relações entre os EUA e a Coreia do Norte. Parece que qualquer erro no flerte/negociação vai desencadear não apenas o meu fim, mas o de toda humanidade.
É assim que eu me sinto. Suo, gaguejo, fico ansioso, não sei o que fazer ou dizer, gesticulo de forma estranha e, não raro, faço cara de maníaco. Tal comportamento resulta em três reações das mulheres: estranhamento, impaciência ou, na pior das hipóteses, medo.
Caso eu consiga superar a barreira da abordagem ou realizar um convite para sair e conseguir estabelecer diálogo sem tanta gagueira ou silêncios constrangedores, há um outro problema: tomar a iniciativa. Sim, continuo sem saber quando devo beijar e fazer venha-cá-minha-nega para uma mulher.
A dificuldade vai além da minha inaptidão para decifrar os anseios do sexo feminino e inclui doses cavalares de timidez, insegurança e baixa autoestima, me inundando por pensamentos como:
“ah, ela provavelmente me achou divertido e quer ser minha amiga”.
“ela deve estar falando comigo só porque suas amigas estão fazendo qualquer outra coisa e eu sou o único conhecido dela nesse ambiente”.
“ela claramente deve achar que sou gay”.
“não, ela é bonita e divertida demais, certamente não se interessa por mim”.
“deus, eu estou vestindo uma camisa do Rocky Balboa, óbvio que ela me acha retardado”.
É difícil.