sexta-feira, março 06, 2009

Coração em cana

Quando o PM encosta a viatura ao lado do meu carro e manda eu sair do veículo com os documentos tenho a certeza de que minha cota de situações improváveis é bem maior do que a das outras pessoas. Quem mais seria abordado por policiais no momento em que discute relação com a ex-namorada?

Com os olhos ainda úmidos da conversa, saio do carro com os documentos, amaldiçoando todas as escolhas que, de alguma forma, me levaram a estar ali naquele momento.

Alguém havia ligado para a polícia informando sobre um carro estranho parado na rua, diz o PM. Provavelmente achavam que eu estava vigiando alguma casa, fazendo sexo, aguardando um traficante ou sei lá. Vendo minha cara de choro, o policial pergunta o que houve. Tento explicar superficialmente:

- Não, não estávamos brigando, apenas conversando.

- Não, ela não é mais minha namorada.

- Não, eu que acabei o namoro, faz coisa de um mês.

- Sim, eu errei e queria me acertar com ela novamente.

- Não, acho que ela não me quer mais.

- Ela já chama outra pessoa de meu amor.

- Sim, ela é maior de idade, posso pegar os documentos dela também.

- Sou uma pessoa extremamente errática e confusa.

Enquanto faço o desabafo, outro policial anota meus dados, diz que tem que fazer um boletim de ocorrência. Esse era o bad cop.

E o bon cop continua a fazer perguntas sobre o meu relacionamento, notadamente querendo me ajudar a superar tudo.

Então o bad cop abre a mala da viatura e veste seu colete, me fazendo visualizar o momento em que serei algemado e jogado dento do porta-malas, tal qual poderia acontecer num romance de Kafka. Baixando o nível vertiginosamente, lembrei também daquela música de Bruno e Marrone, “seu guarda eu não sou vagabundo, me bata, me prenda, faça tudo comigo, só não me deixe ficar sem ela”. Tudo isso me veio à cabeça em uns quatro segundos.

Era só pra me intimidar, no fim das contas. Ainda bem que o bon cop intercedeu, mandou o bad cop entrar na viatura e continuou a conversar comigo. E me falou um monte daqueles clichês que a gente já conhece.

E disse que nada é pra sempre.

Já aprendi. E hoje, finalmente, estou bem, muito bem. Obrigado, seu guarda.

4 comentários:

Anônimo disse...

Legal como tu consegue ser trágico e cômico ao mesmo tempo. =)

Acho que também sou "uma pessoa extremamente errática e confusa".
Mas que bom que a gente aprende e, finalmente, ficamos (muito?) bem.

ah, tô chocada com a badisse do bad cop =S

CALABAR, Ciro disse...

Dizem que ela existe
Prá ajudar!
Dizem que ela existe
Prá proteger!
Eu sei que ela pode
Te parar!
Eu sei que ela pode
Te prender!...

Polícia!
Para quem precisa
Polícia!
Para quem precisa
De polícia...

Dizem prá você
Obedecer!
Dizem prá você
Responder!
Dizem prá você
Cooperar!
Dizem prá você
Respeitar!...

Polícia!
Para quem precisa
Polícia!
Para quem precisa
De polícia...

Patrícia Félix disse...

Breno, a tua vida é uma aventura mesmo. faz mó tempão que não entro no blog, mas sempre q entro eu me surpreendo com os acontecimentos. Nunca deixe de escrever!

Bjao!

Anônimo disse...

Vou dormir senão vou ler teu blog todo, não tô conseguindo parar. Gostei a maneira de dizer tudo em poucos parágrafos, ás vezes queria dizer menos.

Gostei.

um abraço. Mariana