Aproveitando essa onda de boatos sobre o fim da dupla, aproveito pra postar um texto meu publicado no Jornal do Commercio em 2008.
Talvez uma descrição superficial deles não impressione. São pequenos (ambos têm cerca de 1,60m de altura), usam roupas justas e botinhas de couro e carregam um sotaque forte do interior de Goiás. Mas mesmo destoando dos padrões do showbiz, Mirosmar e Welson são, inegavelmente, um sucesso. A dupla, que hoje atende pelo nome artístico de Zezé di Camargo e Luciano, consegue cativar sua platéia, seja numa apresentação musical ou numa entrevista coletiva, como a realizada na última quinta-feira, num hotel em Piedade, Jaboatão dos Guararapes. Na ocasião, a dupla conversou sobre o novo show, que tem sua última apresentação no Recife hoje, além de discutir os 16 anos de carreira e falar sobre política.
Sentados em poltronas forradas com um tecido imitando pele de onça, Zezé di Camargo e Luciano fazem pose de popstars para uma platéia de jornalistas que lota alvoroçada uma pequena sala do hotel. Tão pouco naturais quanto o material que cobre as cadeiras são algumas respostas às perguntas feitas pelos repórteres, que de tão repetidas soam como falas previamente ensaiadas. Indagados pela enésima vez sobre o governo Lula (eles aderiram à campanha de 2002, fazendo shows em comícios e gravando a música do programa eleitoral), dizem que têm algumas ressalvas, mas não se sentem arrependidos de terem dado o seu voto ao atual presidente.
“Se você analisar bem o governo Lula, verá que ele é infinitamente melhor do que o de Fernando Henrique Cardoso”, afirma Luciano. Entre os pontos de discordância com o presidente, a segunda voz da dupla reclama de programas assistencialistas do governo, como o Fome Zero. “Básico não é cesta de alimentação, isso é obrigação. Básico é poder ir ao cinema, ter informação com formação”, diz, quase numa citação involuntária à música Comida, dos Titãs.
“O artista não tem que ficar por trás da cortina. Ele tem de se revelar como cidadão”, diz Zezé. “Esse é o grande papel social do artista”, completa o músico, afirmando que procura manter-se sempre informado acompanhando a política nacional, “porque de nada adianta falar sem ter embasamento”. No último dia 16, os dois músicos participaram de um movimento contra a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) até 2011, questão defendida por Luís Inácio. Organizado pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), o evento reuniu cerca de 15 mil pessoas no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo.
O movimento contra a CPMF não foi a única manifestação que ganhou o apoio da dupla. Zezé chegou a participar do Cansei, manifesto cívico criado pela empresariado e classe alta paulistanos criado após o acidente do avião da TAM
SHOW O discurso mais politizado parece ser uma mostra do amadurecimento pessoal de Zezé di Camargo e Luciano, evolução esta que eles também estão tentando levar para seu trabalho. Com o novo show, intitulado Duas horas de sucesso, os dois tentam quebrar parte do estigma de serem artistas românticos, fazendo incursões mais pops, com músicas como How can I go on, de Freddie Mercury e Hey Jude, dos Beatles.
E mesmo num tempo em que pouco ou nada se fala sobre duplas sertaneja – termo, aliás, bastante subjetivo - os dois afirmam que persistem no mercado fonográfico por conseguirem se reciclar. Em 16 anos de carreira, os irmãos já venderam mais de 24 milhões de álbuns, marca bastante significativa, ainda mais levando em consideração a frágil situação do mercado musical.
No Recife, a dupla faz alguns acréscimos no set list de 24 músicas prometido para as duas horas de show. “Aqui nós não temos fãs, mas legiões”, diz Zezé di Camargo e para homenagear esse público fiel, Feira de mangaio, de Sivuca e Vida de Viajante, de Luiz Gonzaga, fazem parte do repertório apenas na cidade. Já o encerramento do show deve ficar mesmo com o hit grudento É o amor, que levou a dupla a vender quase dois milhões de discos na sua estréia, em 1991.
SURPRESA Antes da coletiva acabar Zezé Di Camargo e Luciano receberam a inesperada visita de uma fã que ficou famosa recentemente. Rozinete Palmeira Serrão, de 51 anos, que deu luz aos próprios netos, já que sua filha tem o útero atrofiado e não poderia gestar filhos. Em companhia de Cláudia Michelle, a mãe biológica dos gêmeos recém-nascidos Antônio Bento e Victor Gabriel, a mãe-avó conheceu pessoalmente seus ídolos. Empolgada com o encontro, ela revelou que os bebês passaram os nove meses dentro da barriga dela ouvindo as canções dos dois irmãos. “Foi por isso que nasceu uma dupla. Se você escutasse J. Quest teria nascido um quinteto”, brincou Luciano.
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