Algumas vezes evoco Dylan e tento acredita no verso “when
you got nothing, you got nothing to lose”. Em ocasiões como essas, acabo por
fazer coisas como aceitar o convite de dois amigos para ir a uma boate numa
noite de sexta-feira. E vamos lá com a certeza de que não temos nada a perder.
Grande equívoco.
O drama começa já na fila da boate, quando vejo todos aqueles caras com camisas polo estampadas com brasões e/ou números enormes e mulheres que acham bacanas os caras com camisas polo estampadas com brasões e/ou números enormes. Com todo meu preconceito e apatia, tenho convicção de que não quero estar lá dentro nem muito menos interagir com aquelas pessoas que dentro de instantes estarão cantando e dançando a alegremente a música da posição da rã.
O cenário
lá dentro é desolador. Se tenta emular um cenário rústico que remeta à temática
mexicana da casa, mas todos aqueles arbustos e ramos de flores, somados à parca
iluminação gelo seco me fazem lembrar a decoração de cemitério que um parque de
diversões daqui adota próximo ao Dia das Bruxas. Até uns esqueletos próximos ao
teto a boate tem. Impossível evitar essa associação.
A atmosfera
de quermesse em Dia das Bruxas é reforçada pelo público, que em sua maioria age
como zumbis menos interessantes do que os habituais. Eles não buscam miolos
como os mortos-vivos bacanas; eles querem azarar, ouvir músicas patéticas e
pagar R$ 7 numa long neck de Skol. Difícil aceitar que todos eles estão em
plena posse de suas faculdades mentais.
Aí bate um
complexo de messias, e fico entre perdoai-pai-eles-não-sabem-o-que-fazem e SAI-CAPETA.
Queria salvar aquelas pessoas, embora em meio àquele clima de alegria geral até
fique em dúvida se não sou eu quem precisa de salvação. Espero que não.