domingo, fevereiro 13, 2011

O que me levou a ser vegan

Mesmo o maior fã de rodízios de churrascaria acha absurdo e desumano alguém matar um cachorro. A minha mãe mesmo diz que ama animais, que humanos não valem nada e que quem não gosta de bicho merece morrer. Mas ela não consegue nem quer abdicar de comer aquele coração de galinha ou uma picanha. Se isso não for uma tremenda incoerência da maioria das pessoas, não sei mais o que pode ser.

Tornei-me vegetariano, acima de tudo, por questão de coerência. Gosto de animais e percebi que não faz sentido eu ter compaixão para com meus animais de estimação, me indignar com que usa casacos de pele ou ficar puto quando vejo alguém batendo num cavalo e, ao mesmo tempo, curtir um churrasco no final de semana. Sobretudo sabendo que a ingestão de carnes e derivados de animais não é algo indispensável para minha saúde e que existe um bocado de sofrimento até esses produtos chegarem ao meu prato.

Eu tento entender e respeitar quem diz que não é capaz de mudar sua dieta, mas não consigo aceitar que alguém me diga que não tem nada de errado no modo de produção desses alimentos. Utilizar pseudo-argumentos de cadeia alimentar é desculpa das mais esfarrapadas. Aliás, somente quando é conveniente nos colocamos no mesmo patamar de outros animais: se é um leão matando uma zebra bonitinha é porque ele é uma besta selvagem, mas se somos nós comendo vitelo, estamos apenas exercendo nosso papel superior na cadeia alimentar, a lei do mais forte etc.

Dizer que temos direito sobre outras criaturas ditas menos inteligentes abre brecha para inúmeros disparates. Posso subjugar pessoas de intelecto inferior ao meu? Posso bater num deficiente mental? E as crianças?

Alegar que animais não sofrem é outra mentira deslavada. Espero, sinceramente, que quem diz isso não acredite de verdade no que está falando. Vacas, porcos, galinhas, peixes e tantas outras criaturas das quais nos alimentamos são tão sensíveis à dor quanto nós. É falsa ingenuidade achar que eles não sofrem.

Se nada disso parece errado para quem consome carne e outros produtos de origem animal, é importante dizer também que:

- quase 30% de toda superfície do planeta é dedicada ao pasto do gado (estamos desmatando para isso, vide Amazônia);

- pelo menos 8% de toda água do mundo é destinada à irrigação de colheitas para alimentação de gado. São necessários de 20 a 30 mil litros de água para produzir um quilo de carne. Pra produzir um quilo de trigo, por exemplo, bastam apenas 150 litros de água.

- 1/3 de toda produção agrícola é para alimentar animais de corte. Ou seja, para aquele bife chegar na nossa mesa, foram consumidos centenas de quilos de alimentos. A quantidade de alimento que animal rende depois de morto é infinitamente menor do que a que ele consume.

Resumindo, a cadeia produtiva da carne demanda muito mais custos e energia do que alimentos de origem vegetal. E não vou nem falar do quanto é mais saudável uma dieta vegetariana.

8 comentários:

Maria Júlia disse...

Acabei de descobrir que sou incoerente. Mas refleti. Isso é o 1º passo. ;)

Gostei do teu blog!

Vero disse...

Nossa, ótimo texto! Da próxima vez que me perguntarem pq não como carne, enviarei-o.

Anônimo disse...

Olha, não sei com quem você conversa, mas não conheço ninguém que se dê o direito de comer carne pela "lei do mais forte": o máximo que conheço é a inserção no ciclo da vida, onde o corpo dos carnívoros se decomporá e se tornará grama para os herbívoros (hipoteticamente, claro).

Também achei meio chato que, por mais que você alegue "respeitar" quem come carne, na verdade desce o cacete neles e, dessa forma, acaba se insinuando superior pela sua opção de dieta.

Não deixa de ser engraçado que vegetarianos exijam ser respeitados por sua opção (com razão), mas rebaixem a opção alheia.

Acredito que comer ou não carne é uma opção, e todos os lados devem ser igualmente respeitados. Se é possível viver sem carne, nem por isso é mortal viver com seu consumo - acredito que o corpo seja o melhor parâmetro, e ele aparentemente não passa mal com carne (nem sem ela, veja bem).

Ainda mais que o sistema capitalista é o que define o abate de animais, e em um universo como o dele, calcado no consumo e na desigualdade, nem se subitamente 90% das pessoas deixasse de consumir carne algo se resolveria nesse sentido. É tão utópico quanto achar que a Hora do Planeta faz alguma coisa EFETIVA. É uma argumentação de peso na consciência e fuga da responsabilidade, porque na prática não interfere em nada.

Nathi disse...

Well, como carne, adoro animais e não me sinto incoerente. Por que?
Não acho que carnívoros em geral (a exemplo do seu leão) sejam criaturas bestiais. Não acho que matar para comer é crime, mas acho que matar por qualquer outro motivo sim.
Da mesma forma que acho absurdo matarem um gatinho a pauladas, tenho vontade de cortar a cabeça quem apedreja galinhas. E da mesma forma que como frango, comeria carne de gato. Entende o que eu digo?

Quanto ao lado político-social da coisa, acho que o anônimo aí em cima falou tudo, não tenho o que completar.

O que eu não gosto nesses assuntos alimentícios é "evangelização veganista" que vegetarianos têm o hábito de fazer. Se eu não obriguei um vegetariano a não comer carne, por que ele sempre tem que tentar me convencer das vantagens de uma vida sem bife? É tudo uma questão de opção. Cada um respeita a opção do outro e que todos sejamos felizes e nutridos!

Marina Moura disse...

os vegetais também sofrem.

Marina Moura disse...

amei esse anônimo aí de cima.

Anônimo disse...

Ah, é culpa do sistema capitalista o consumo de carne! vamos pegar esse tal de capitalista! alguém sabe onde ele mora?

Thiago X disse...

Brenowisk, Thiago e Syllas passaram aqui e se divertiram muito com o blog, seremos leitores fieis, vc realmente escreve muito bem além de que nos diverte, Abraço