Quase sempre que pensei em alguém para estar do meu lado, imaginei uma pessoa de gostos semelhantes, aquele velho conceito de alma gêmea. Não sei se por amadurecimento ou pela dificuldade de encontrar uma mulher que goste de Beatles, Kafka, Hornby, quadrinhos e videogame, finalmente reparei que diferenças são importantes e saudáveis. Querer alguém muito parecido conosco é meio doentio, narcisista.
Mas essas diferenças, no fim das contas, complicam um bocado o relacionamento. Certos aspectos vão muito além de incompatibilidades de gosto.
Porque alguns dos nossos gostos não representam apenas preferências, mas sintetizam nossa personalidade. Por exemplo: o que me impossibilita de funcionar bem com uma guria fã do Chiclete com Banana não é incompatibilidade de gostos. Essas coisas conseguimos, com algum (muito) custo, superar. É incompatibilidade de estilo de vida.
Não é preconceito, mas sei perfeitamente que o ritmo e o estilo dessa pessoa não combinariam de forma alguma com os meus. Talvez pudéssemos nos dar bem e gostar sinceramente um do outro, mas, em algum momento, a sombra de Bel Marques ia acabar por destruir nossa relação. Seria um relacionamento datado, sem dúvida. Não daria certo.
É um tanto quanto determinista, mas real.
E o grande problema da gente é saber (e conseguir) dizer não pra pessoa antes que as coisas se compliquem. Porque o Paul McCartney nunca, mas nunca mesmo, vai querer ir atrás do trio elétrico no carnaval de Salvador. Mesmo que ele respeite (o que seria totalmente improvável) musicalmente o Bel Marques. Não dá, sabe?
Temos muito mais dificuldades pra lidar com diferenças do que imaginamos.