sexta-feira, maio 02, 2008

Cartas nunca entregues

O que fazer com uma carta que não vai ser entregue ao seu destinatário? Reparei nas correspondências escritas por mim e nunca enviadas. São poucas, nada absurdo, mas a simples existência delas me causa desconforto. Pedidos de desculpas, queixas, declarações apaixonadas, comentários cretinos ou dramas, todos intencionalmente extraviados.

Escrever as cartas traz alívio, sem dúvida. Mas a eficácia desse extravasamento fica comprometida quando os recados não chegam ao seu destino. Não adianta de muita coisa dizer algo que não será ouvido. Ou lido, no caso.

Hoje, revendo algumas das cartas, fico na dúvida se foi realmente melhor nunca entregá-las. Como consolo, tenho plena convicção de que outras realmente tiveram melhor destino ficando por aqui mesmo.

Estranhas lembranças estas cartas. E olha que tem coisa recente, mas parece pertencer a passado longínquo. Ou talvez eu apenas queira fazer com que pareçam coisas ultrapassadas.

Bem, como sei que não produzi nada tão interessante quanto Carta ao Pai, de Franz Kafka, decidi me livrar destes papéis. Quer dizer, deixei duas guardadas. Quem sabe ainda dá tempo e, mais importante, ainda vale a pena?

17 comentários:

Karol disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Karol disse...

Acabo de perceber que não sou a única que tem cartas para mandar.
No meu caso a distancia do correio e a facilidade dos emails colaboram muito...
Realmente tem cartas que foram mais úteis ficando apenas na minha gaveta,servindo apenas pro meu desabafo momentâneo.
Mas eu gosto de cartas,são mais intimas do que emails,acho que vou procurar as minhas perdidas...

Até mais.
:)

Anônimo disse...

as minhas cartas sempre acabam virando poeminhas.
pelo menos têm essa utilidade...

Renatinha disse...

Oxe, tenho agonia. Acho q o desabafo não é completo se o outro não ler. É a mesma coisa daqueles otários que cospem no copo do "amigo" e ficam rindo por trás. Grande merda, se o cara não vai saber nunca que bebeu cuspe ou mijo do marmanjo! Não vale.

Clara Mazini disse...

Ah, o ato de escrever as cartas muitas vezes tem um fim em si. A gente escreve, quem sabe, até pra nós mesmos. Como uma forma de organizar aquilo que sente, ou poder contemplar em forma de letras a confusão daquilo que se imagina. Eu não sei, só sei que também tenho as minhas e guardo nem que seja uma forma de poder me lembrar em tempos passados. Acabo virando a minha própria remetente. Isso não deixa de ser um achado, imagino.
Agora vou ficar pensando sobre isso...

Anônimo disse...

É verdade, todos nós temos cartas que nunca mandamos. São coisas que gostaríamos de dizer mas que "na hora h", tivemos receios de dizer.

Mas, um dia quem sabe, a "coisa" deixa de ser importante, ou até mesmo entregamos as cartas.

Breno Pessoa disse...

Impressionado que o pessoal faz isso. Achei que era um ato meio retardado meu.

marcos disse...

Não entrega não.
Queime-as.
Escreva novas, se necessário for.
Elas podem estar datadas portanto recicle-se.
Abraço.

Clara Mazini disse...

Acho que você deve entregar essas cartas para poder voltar a escrever aqui.

Nathália. disse...

Acabei de postar um e-mail que eu não vou ter coragem de enviar nunca. Escrevo coisas já sabendo que não vão ser enviadas, acho que dá pra melhorar um bocado dos bueiros da vida.

Nunca mais tinha passado por aqui, colega.:)

Nathália. disse...

Né? Logo quando eu terminei de postar, lembrei que nunca mais tinha passado por aqui e vi isso.
Coincidência da gota.

Laíse Queiroz disse...

será que eu tenho cartas assim? acho que sempre as entrego. sempre.

M. disse...

Também escrevo e não mando, e anos depois encontro no meio de um caderno guardado. Mas nunca me arrependi de não ter mandado.

Aceita a sugestão do Caco e queime-as. Você vai se sentir renovado! Só faça uma fogueira controlada, por favor :)

beijos

Camilinha disse...

penso que o ato de escrever é tal qual o ato de falar. com a diferença que aprendemos a escrever bem depois do que falamos e que as palavras escritas têm mais memória que as faladas... então, também penso que é um alívio poder "falar" sem ninguém ouvir...


beijos daqui...

Anônimo disse...

austac progressed documents antas asks mated hksar renewal csir persona willman
semelokertes marchimundui

Vinícius Linné disse...

Por isso que detesto os e-mails. Quando vejo já mandei.

Um pedido: Volte ao blog, porque ele é maneiro.

Inara Vechina disse...

fiz um rascunho pra cada uma das cartas que mandei na vida; caixas e caixas paradas que de vez em nunca dou uma olhada pra lembrar de como eu mudei.há pouco tempo escrevi uma carta que me arrependo de ter entregue.besta que fui fiquei esperando de longe pra ver a reação da pessoa lendo: ele leu a primeira linha, dobrou e guardou com uma negação na cara.doeu, muito.um bom tempo depois ele comentou sobre.era melhor eu ter ficado com a idéia do que ele poderia ter achado do que as palavras que ouvi.